O relógio marcava 07:30 da manhã e Rui Rocha estava à porta do centro de saúde da freguesia de Algueirão Mem-Martins, no concelho de Sintra, onde cerca de 82% dos utentes não têm médico de família, apontando esta infraestrutura como exemplo “da degradação a que a governação de António Costa conduziu o SNS”.
“Isto significa que chegámos a um ponto de colapso do SNS, colapso devido ao enviesamento ideológico das políticas que são aplicadas em Portugal desde os tempos da geringonça. As pessoas estão amarradas por ideologia devido à influência de Paulo Raimundo (PCP), de Mariana Mortágua (BE), de Pedro Nuno Santos, de António Costa (PS). Estão amarradas a uma solução que não funciona”, criticou o líder dos liberais.
Ao mesmo tempo que Rui Rocha falava à imprensa, e o nome do secretário-geral do PCP era mencionado, Paulo Raimundo distribuía atrás do dirigente liberal alguns panfletos pelas pessoas que se encontravam na fila à espera, ouvindo queixas dos utentes daquele que é o maior centro de saúde do país, com cerca de 46 mil inscritos e que tem apenas cinco médicos de família.
Mais tarde, os dois chegaram a cumprimentar-se com um aperto de mão, e em resposta aos jornalistas, Raimundo devolveu que “cegueira ideológica é a de quem quer desmantelar o SNS”.
“O problema que estamos a atravessar hoje resulta de um caminho e de uma opção política [do PS]. (…) Onde é que isto tem uma certa curiosidade? É que é o caminho, no fundamental, independentemente dos barulhos, dos esbracejares, que quer o PSD, quer a IL, quer o Chega, acompanham e batem palmas”, atirou.
Paulo Raimundo revelou sentir “angústia” ao ver as pessoas que esperavam na fila e deixou um desafio para “quem anda aí preocupada com os cenários e o esquema pós-eleições” legislativas antecipadas de 10 de março.
“Venham falar com as pessoas. Perceberiam que o que vai na cabeça das pessoas e as preocupações não têm nada a ver com esses cenários, têm a ver com o acesso à consulta, a ter mais salários, essa é que é a grande questão. Se calhar um embate com a realidade fazia bem a um conjunto de pessoas que perdem o tempo a discutir coisas que não têm consequência nenhuma”, disse.
Por seu turno, Rui Rocha também deixou um desafio, mas ao candidato à liderança do PS Pedro Nuno Santos, apelando para que o socialista visite o centro de saúde de Mem-Martins, “ou outro que ele escolha”, dizendo que terá “todo o gosto” em acompanhar o ex-ministro e mostrar-lhe “as consequências da geringonça e da governação do PS”.
O liberal considerou natural que, em “tempo de pré-campanha eleitoral, os partidos políticos comecem agora a estar mais perto das pessoas”, mas lembrou que tem visitado este local várias vezes.
No primeiro dia útil de cada mês, é comum ver uma grande fila à porta deste centro de saúde com as pessoas a queixar-se de falta de condições de espera, sem qualquer abrigo, faça chuva ou sol, uma vez que os utentes esperam em pé encostados ao edifício.
Esta segunda-feira, a fila não estava tão grande como é habitual, o que, segundo Amália Alface, da Comissão de Utentes da Saúde de Algueirão-Mem Martins (CUSAMM), – que acompanhava o líder do PCP – se deve à disponibilização ‘online’ de um formulário para agendamento de consultas ou a possibilidade de as marcar de segunda a sexta-feira presencialmente, ficando o pedido registado.
No entanto, para a comissão de utentes, tal não é suficiente, uma vez que as pessoas aguardam vários meses por uma consulta devido à falta de médicos.
Do lado dos liberais, a solução passa pela possibilidade de os utentes recorrerem ao setor privado e social. A esta proposta, Paulo Raimundo respondeu com ironia: “Há sempre oportunidades de negócio, isto é preciso é ter visão de mercado”, disse, insistindo no aumento das remunerações e valorização das carreiras.
O centro de saúde de Algueirão Mem-Martins foi inaugurado no dia 25 de abril de 2021 pelo primeiro-ministro, António Costa, e representou um investimento na ordem dos quatro milhões de euros.
LUSA/HN
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