“É um modelo muito teórico. (…) Uma coisa é o número de médicos de família que se formam em Portugal, mas outra coisa é o número de médicos de família que são contratados para o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, afirmou Carlos Cortes.
O bastonário falava à Lusa a propósito das projeções do Ministério da Saúde, hoje divulgadas pelo jornal Público, de que, após anos de carência, a falta de médicos de família começa a atenuar-se já no próximo ano e que, a partir de 2026, haverá excesso destes profissionais.
Carlos Cortes lembrou que, nos últimos anos, nem todas as vagas que vão a concurso são ocupadas.
“O modelo que foi divulgado hoje tem como pressuposto que todos os médicos de família que se formam entram para o Serviço Nacional de Saúde. Ora isso não acontece”, disse o responsável, destacando ainda as rescisões como outro fator não considerado pelas projeções do Governo.
Carlos Cortes destacou ainda que, “os centros de saúde e os médicos [de família] estão sob pressão permanente” por causa das listas de utentes a cargo de cada profissional.
“Têm desde há demasiados anos listas de utentes sobrelotadas. Muitos médicos têm mais de 2.000 utentes, em média, as USF [Unidades de Saúde Familiar] têm 1.750 utentes quando as recomendações para serem prestados cuidados de saúde de qualidade dizem que o médico de família deverá ter cerca de 1.550 utentes”, afirmou.
Carlos Cortes disse ter “muitas dúvidas” de que daqui a dois anos possa haver excesso de médicos de família e sublinha que o que pode acontecer é ter a possibilidade de haver mais entradas para o SNS “se o Ministério da Saúde desenvolver os mecanismos adequados”.
A este propósito, o responsável questionou: “O que é que até ao dia de hoje foi feito para os perto de 400 médicos de família que vão agora tornar-se médicos especialistas, em março/abril?”
O bastonário disse ainda que se a Direção Executiva do SNS estivesse preocupada e interessada em contratar estes profissionais “já tinha desenvolvido um conjunto de mecanismos, nomeadamente a identificação dos lugares para eles serem colocados, para poderem ter uma perspetiva de colocação quando tiverem de escolher a sua especialidade, imediatamente depois do seu exame final”.
Duvidando das estimativas hoje divulgadas, afirmou ainda: “Tendo em conta o número de médicos que se reformam, nós vamos atingir um ponto de equilíbrio nos próximos anos. Mas é preciso resposta aos 1,7 milhões [de utentes sem médico de família], um valor que pode baixar para 1,4 milhões com a limpeza das listas”.
LUSA/HN
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