Os enfermeiros em contexto de urgência recebem cerca de 100, 200, 300 doentes por dia. Cerca de 30 a 80% deles, são sujeitos a cateterização periférica, 50% dos quais sem critério, just in case. Por outro lado, sabe-se que 70 a 90% dos doentes desenvolve complicações, sendo uma delas a infeção associada ao cateter venoso periférico (CVP).
A evidência sugere que a tomada de decisão do enfermeiro sobre a sua inserção deva surgir quando existe uma probabilidade de utilização expectável de 80%.
Contudo, quantas vezes colocamos um cateter para colheita de sangue “não vá ser preciso”, em vez da punção direta?
Quantas vezes não envolvemos o doente na escolha do local de punção, para que, este consiga ser autónomo no autocuidado e continuar, por exemplo, a poder lavar as mãos como anteriormente, sabendo que tal é crucial para a prevenção das Infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS)?
Quantas vezes nos deparamos com CVP’s com sinais de infeção local ou flebite, sabendo que tal conduz à interrupção no seu tratamento, prolonga a sua permanência no hospital, com todos os riscos e custos associados?
Quantas vezes removemos o acesso apenas quando o doente já tem alta, “faltando apenas remover o acesso”?
Urge uma tomada de decisão fundamentada em critérios específicos que considere as guidelines nacionais e internacionais, as particularidades da pessoa e a especificidade do contexto em si.
Então e o que poderá sustentar a tomada de decisão do enfermeiro? Será a sua experiência, a sua perícia na vigilância enquanto essência da enfermagem, a sua intuição?
Digamos que um pouco de todas estas condições, mas acima de tudo o envolvimento da equipa transdisciplinar, focada na melhoria da qualidade dos cuidados prestados às pessoas.
A nível internacional existem instrumentos/estratégias que suportam uma tomada de decisão do enfermeiro sistematizada, para que a mesma aconteça de forma célere, algo tão necessário no serviço de urgência.
Contudo, a mudança só ocorre se as equipas forem envolvidas no processo e para isso é necessário que haja uma aproximação entre a Academia e os contextos clínicos, para que a investigação surja para suprir as reais necessidades sentidas na prática pelos enfermeiros e que estas se traduzam nas reais necessidades dos doentes, produzindo assim resultados positivos para doentes, famílias, equipas de saúde e instituições hospitalares, ou seja, ganhamos todos!
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