Em Portugal, o cancro do pulmão (CP) é a neoplasia que causa mais mortes, posicionando-se como o terceiro tipo de cancro mais incidente, com 5415 novos casos diagnosticados em 2020 e 4797 mortes registadas no mesmo ano. Todos os dias, 15 portugueses são diagnosticados com CP e 13 morrem devido a esta doença. A taxa de sobrevivência a cinco anos após o diagnóstico é de apenas 15%, uma vez que 75% dos casos são identificados em estádios avançados.
Contudo, quando diagnosticado precocemente, a taxa de sobrevivência a cinco anos pode variar entre 70% a 90%. Estudos internacionais como o National Lung Screening Trial (NLST) e o NELSON demonstraram que a tomografia computorizada de baixa dose (TCBD) pode aumentar significativamente o diagnóstico precoce e reduzir a mortalidade por CP em mais de 20%.
Reconhecendo a urgência da implementação de programas de rastreio em Portugal, a Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, PULMONALE, reuniu um painel de especialistas para desenvolver um projeto piloto. Este painel inclui pneumologistas, oncologistas, radiologistas, médicos de família e decisores políticos. Foram realizadas sessões de consenso para analisar a situação internacional e mapear o projeto piloto, resultando num plano aprovado por todos os peritos envolvidos. Os detalhes do projeto foram publicados na Acta Médica Portuguesa no artigo intitulado “Rastreio do cancro do pulmão em Portugal: um projeto piloto da PULMONALE.”
De acordo com a informação publicada, o projeto piloto será estruturado em três áreas principais: recrutamento, rastreio e orientação para acesso a diagnóstico. Esta abordagem integrará os conhecimentos adquiridos pelos estudos NLST e NELSON, que fomentaram a implementação de mais de 129 projetos de rastreio de CP a nível mundial, incluindo 49 na Europa.
No Reino Unido, por exemplo, o programa Targeted Lung Health Checks (TLHC) rastreou mais de 120 mil participantes e detetou mais de 1500 casos de CP desde 2019, levando à recomendação do rastreio a nível nacional. Outros países europeus, como a Polónia, Croácia e República Checa, também já iniciaram programas nacionais de rastreio.
Em 2022, a Comissão Europeia atualizou as suas recomendações para rastreios de base populacional, incentivando os países a realizar estudos de viabilidade e projetos-piloto para o rastreio de CP, associados a programas de cessação tabágica. Em Portugal, a implementação de um projeto-piloto é vista como essencial para adaptar o plano de rastreio à realidade nacional e preparar gradualmente o sistema de saúde para uma implementação a nível nacional.
A PULMONALE propõe que o rastreio seja realizado em zonas de fácil acesso, acompanhado de campanhas de sensibilização e consultas de cessação tabágica e apoio psicológico. A criação de vias de referenciação para lesões suspeitas também faz parte do plano, assegurando um acompanhamento adequado pelo Serviço Nacional de Saúde.
O rastreio do CP pode, comprovadamente, aumentar a taxa de sobrevivência em mais de 20% e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, além de ser custo-efetivo. perante estes benefícios, a Comissão Europeia recomenda a realização de projetos-piloto de rastreio do CP.
NR/PR/HN
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