O relatório “Números da Ordem 2024” revela uma situação preocupante no setor da medicina dentária em Portugal. O país está a perder um número sem precedentes de médicos dentistas, com 1339 profissionais a terem as suas inscrições suspensas há mais de cinco anos no final de 2023, um aumento de 7,6% em relação ao ano anterior.
Este êxodo de profissionais está a agravar o desequilíbrio entre o número de médicos dentistas e a população portuguesa. O estudo indica que o rácio atual é de um médico dentista para 796 habitantes, um valor que se afasta significativamente da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de um profissional para cada 1500 a 2000 habitantes.
O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão, expressa grande preocupação com esta tendência, afirmando que “Portugal formou e perdeu estes 1339 médicos dentistas com inscrição suspensa há mais de cinco anos”. Ele alerta para o facto de que a situação continuará a agravar-se devido à saturação do mercado de trabalho e às reduzidas perspetivas de estabilidade profissional para os jovens recém-formados.
O estudo revela ainda que, no final de 2023, existiam 2312 profissionais com inscrição suspensa, representando o segundo maior aumento num só ano (235) desde que há registos. Mais de metade destas suspensões (54,4%) devem-se à decisão de trabalhar no estrangeiro, com França, Reino Unido e Espanha como os principais destinos.
A situação é agravada pelo facto de Portugal ser o segundo país que mais médicos dentistas forma na União Europeia, conforme confirmado pelo Eurostat. Miguel Pavão apela a uma “estratégia nacional que inverta estes números”, destacando a urgência de repensar as políticas de formação e emprego no setor.
A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) também expressou preocupações sobre a qualidade do ensino de medicina dentária em Portugal. No processo de acreditação dos ciclos de estudo, a agência identificou fragilidades que comprometem a qualidade da formação e, consequentemente, a empregabilidade dos futuros profissionais. Entre estas, destacam-se o elevado rácio docente/estudante nas unidades curriculares clínicas e pré-clínicas.
Apesar destes desafios, o número de alunos inscritos nos cursos de medicina dentária continua a aumentar nas instituições que forneceram dados para o estudo. Das sete instituições de ensino superior que lecionam o curso em Portugal, cinco reportaram um aumento no número de alunos para o ano letivo 2023/2024.
O estudo também revela disparidades regionais significativas na distribuição de médicos dentistas. Enquanto algumas áreas, como a Área Metropolitana do Porto e Viseu Dão Lafões, apresentam um excesso de profissionais, outras regiões como o Baixo Alentejo e o Alentejo Litoral enfrentam uma escassez. Das 25 regiões do país, 19 têm uma densidade de médicos dentistas acima da recomendada pela OMS.
Esta situação levanta questões importantes sobre o planeamento e a gestão dos recursos humanos na área da saúde em Portugal. O êxodo contínuo de profissionais qualificados, combinado com a formação excessiva de novos médicos dentistas, cria um cenário complexo que requer atenção urgente das autoridades competentes.
A Ordem dos Médicos Dentistas apela a uma reflexão profunda sobre o futuro da profissão no país, sublinhando a necessidade de uma estratégia coordenada que equilibre a formação de novos profissionais com as reais necessidades do mercado de trabalho e da população portuguesa.
PR/HN/MMM
Se temos 1 medico dentista por 796 habitantes ainda preenchemos o criterio de ter um rácio de pelo menos 1 medico dentista por 1.500 a 2.000 habitantes segundo a recomendação da OMS. Eventualmente a recomendação da OMS poderá ser conservadora. Assim, a preocupação da Ordem dos Médicos Dentistas é apropriada.