Dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), publicados no documento “Plano de Recursos Humanos na Saúde 2030”, consultado pela agência Lusa, indicam que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem registado “uma evolução significativa” de enfermeiros e médicos estrangeiros, entre 2017 e 2023.
Segundo os dados, o número de médicos estrangeiros no SNS aumentou de 902 em 2017 para 967 em 2023 (+7,2%) e o de enfermeiros de 515 para 684 (+32,8%).
Justo Ruiz Lopez faz parte desta estatística desde que em 2003, com 24 anos, decidiu trabalhar em Portugal devido à dificuldade de conseguir trabalho em Espanha, onde a experiência era um requisito essencial para exercer em hospitais públicos ou num centro de saúde.
Incentivado pela irmã e pelo cunhado que já trabalhavam num hospital português, decidiu enviar currículos para vários hospitais e foi chamado pelo Hospital do Capuchos, em Lisboa, onde iniciou a sua carreira.
“Vim com a ideia de ficar por um ou dois anos e voltar. Mas muitas coisas mudaram e decidi ficar”, disse o enfermeiro, que faz um balanço “totalmente positivo” da sua jornada em Portugal.
“Conheci muitas pessoas fantásticas que me ajudaram, me fizeram crescer a nível profissional e pessoal e não voltaria para Espanha”, sustentou, com convicção.
Ao ser questionado sobre as dificuldades que encontrou quando chegou ao país, Justo Ruiz Lopez comentou que “não foram muitas”, porque, por um lado, já vivia de uma forma independente e longe da família em Espanha, e por outro, foi “super bem acolhido” em Portugal.
Também não teve muita dificuldade com a Língua Portuguesa, pois a maioria de enfermeiros da sua equipa eram espanhóis e falavam português.
Embora reconheça que no início nem tudo “é um jardim de rosas”, o enfermeiro disse acreditar que a formação que teve em Espanha o preparou para o desafio. Apesar de nunca ter trabalhado no seu país, o que aprendeu nos estágios que realizou durante o curso era muito semelhante ao modo de trabalho que encontrou em Portugal.
Questionado sobre como observa a saída crescente de enfermeiros portugueses para trabalhar no estrangeiro, defendeu que é preciso o Estado valorizar mais os profissionais.
Só durante o ano de 2023, a Ordem dos Enfermeiros recebeu 1.689 pedidos de declaração para efeitos de emigração, o que constitui, em proporção, cerca de 60% dos 2.916 enfermeiros inscritos este ano, sendo a Suíça o principal destino.
Ruiz Lopes reconhece que “a vida em Portugal não é fácil” e que os profissionais necessitem de ter um vencimento maior e por isso procuram uma oportunidade noutro país. “Não queremos ganhar mais do que os outros, queremos ganhar aquilo que merecemos”, defendeu.
Contou que, no seu caso, sempre teve como motivação “ter um contrato”, o que em Espanha não ia acontecer. “Em Portugal, embora ainda haja muita coisa que o Governo deve fazer pelos enfermeiros, tem uma coisa boa que é contratar enfermeiros”, comentou.
Enalteceu também a formação de enfermagem em Portugal, mais uma razão para o Governo tomar medidas para que os profissionais fiquem no seu país.
“Quando cheguei fiquei muito surpreendido, para o bem, porque realmente as pessoas são muito bem preparadas”, vincou, contando que foi em Portugal que se especializou em saúde materna e obstétrica, profissão que exerce na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.
Para este enfermeiro, “não há trabalho mais bonito” do que ajudar a nascer um bebé: “O nosso objetivo final é que acabe num final feliz” e que a família vá para casa com “uma experiência de parto positiva, um parto humanizado”.
NR/HN/Lusa
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