No 10º Congresso Internacional dos Hospitais, Rogério Carapuça, Presidente da Associação Portuguesa das Comunicações, abordou questões cruciais sobre financiamento, inovação e tecnologia no setor da saúde. Defendeu uma maior autonomia para os gestores hospitalares e a necessidade de uma transformação digital eficaz para melhorar os processos e a eficiência do sistema de saúde português
Rogério Carapuça, Presidente da Associação Portuguesa das Comunicações, apresentou uma análise detalhada e provocadora sobre os desafios enfrentados pelo setor da saúde em Portugal, durante a sua intervenção no 10º Congresso Internacional dos Hospitais. O evento, organizado pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), focou-se no tema “Financiamento, Inovação e Tecnologia”, proporcionando uma plataforma para discussões cruciais sobre o futuro dos cuidados de saúde no país.
Carapuça iniciou a sua apresentação com uma comparação impactante entre a economia portuguesa e as de outros países europeus, nomeadamente a Holanda e a Dinamarca. Ele destacou que a maior empresa holandesa obteve lucros líquidos de 20 mil milhões de euros em 2023, um valor que supera significativamente os lucros combinados de todas as grandes empresas portuguesas. Esta disparidade, segundo Carapuça, é um indicador claro do desafio económico que Portugal enfrenta.
O orador prosseguiu com uma análise da situação na Dinamarca, onde a maior empresa, especializada em chips, registou lucros de 30 mil milhões de euros no ano anterior. Estes exemplos foram utilizados para ilustrar a discrepância entre as economias destes países e a de Portugal, sublinhando a necessidade urgente de crescimento económico e desenvolvimento de grandes empresas em território nacional.
Carapuça abordou então a questão da definição de PME (Pequenas e Médias Empresas) no contexto europeu. Ele relatou uma discussão na qual participou, onde se debatia o financiamento de PMEs através do mercado de capitais. Contra o seu voto, o grupo decidiu adotar a definição europeia de PME, que Carapuça considera desajustada à realidade portuguesa. Segundo esta definição, praticamente todas as empresas em Portugal seriam classificadas como PMEs, deixando o país sem grandes empresas. Esta situação, na opinião do orador, é um obstáculo significativo ao crescimento económico.
O Presidente da Associação Portuguesa das Comunicações expressou a sua esperança de que este problema possa ser ultrapassado no espaço de uma geração. Ele reconheceu os avanços significativos que Portugal fez em vários indicadores civilizacionais nas últimas décadas, mas argumentou que o país precisa de desenvolver grandes empresas para impulsionar o crescimento económico. Carapuça sugeriu que, com uma economia mais robusta, Portugal poderia aumentar significativamente o seu PIB per capita, aproximando-se dos níveis da Holanda e da Dinamarca.
Um dos pontos centrais da intervenção de Carapuça foi a necessidade de uma gestão mais eficaz e autónoma nas organizações de saúde. Ele argumentou que as instituições de saúde, assim como as de educação, são organizações intensivas em conhecimento. Como tal, os gestores destas instituições devem ter controlo total sobre os recursos humanos, que são o ativo mais importante nestas áreas.
Carapuça defendeu veementemente que os gestores de instituições de saúde devem ter a capacidade de contratar, avaliar e, se necessário, despedir pessoal dentro do orçamento atribuído, sem necessidade de aprovações externas excessivas. Ele criticou o sistema atual, onde os gestores têm pouca autonomia nestas decisões cruciais, argumentando que esta falta de controlo prejudica a eficácia da gestão e, consequentemente, a qualidade dos serviços prestados.
O orador partilhou a sua experiência profissional, mencionando que conheceu muitos gestores públicos ao longo da sua carreira. Descreveu-os como profissionais dedicados, com um forte sentido de missão, mas frequentemente limitados na sua capacidade de resolver problemas quotidianos devido às restrições burocráticas e à falta de autonomia.
Outro tema central na apresentação de Carapuça foi a utilização da tecnologia no setor da saúde. Ele abordou o conceito de transformação digital, enfatizando que não se trata apenas de implementar novas tecnologias, mas sim de transformar fundamentalmente os processos e a organização como um todo.
Carapuça argumentou que a verdadeira transformação digital requer não apenas investimento em tecnologia, mas também em gestão e reorganização dos processos. Ele criticou a abordagem simplista de apenas “colocar tecnologia” nas organizações sem uma verdadeira transformação, afirmando que isso raramente leva a melhorias significativas e pode até piorar a situação.
O orador defendeu que os gestores devem ter os meios e a autoridade necessários para implementar uma transformação digital eficaz. Isto inclui a capacidade de redesenhar processos, adaptar a organização e implementar novas tecnologias de forma integrada. Carapuça argumentou que sem esta autonomia e sem os recursos adequados, qualquer tentativa de transformação digital está condenada ao fracasso.
Um aspeto importante destacado por Carapuça foi a necessidade de uma estratégia nacional de gestão de dados em saúde. Ele reconheceu os desafios relacionados com a proteção de dados e privacidade, mas argumentou que as atuais restrições são excessivas e muitas vezes contraproducentes. Carapuça sugeriu a criação de um sistema centralizado de opções de consentimento, onde os pacientes poderiam gerir as suas preferências de partilha de dados de forma mais eficiente e transparente.
O Presidente da Associação Portuguesa das Comunicações propôs uma abordagem mais equilibrada à proteção de dados, argumentando que o excesso de precaução atual está a impedir inovações importantes no setor da saúde. Ele desafiou os presentes a considerar um sistema onde as pessoas pudessem autorizar o acesso às suas informações de saúde de forma mais flexível, permitindo uma melhor utilização dos dados para fins de investigação e melhoria dos cuidados de saúde.
Carapuça enfatizou a importância de simplificar os processos administrativos e burocráticos no setor da saúde. Ele argumentou que esta simplificação só pode ser alcançada através de uma transformação digital bem planeada e executada. No entanto, reiterou que para que isso aconteça, os gestores precisam de ter a autoridade e os recursos necessários para liderar esse processo de mudança.
Um ponto crucial na apresentação de Carapuça foi a necessidade de criar um ambiente mais favorável ao investimento e ao crescimento empresarial em Portugal. Ele criticou a tendência de “perseguir” empresas que obtêm lucros significativos, argumentando que isso cria um ambiente hostil ao investimento e ao crescimento económico.
O orador desafiou a perceção negativa dos lucros empresariais, lembrando que em países mais pequenos que Portugal, existem empresas com lucros muito superiores aos das maiores empresas portuguesas. Carapuça argumentou que esta mentalidade precisa de mudar para que Portugal possa desenvolver empresas de maior dimensão e competitividade internacional.
Carapuça defendeu a criação de um ambiente que valorize e incentive o sucesso empresarial. Ele argumentou que as empresas que geram lucros significativos devem ser vistas como ativos valiosos para a economia nacional, pois têm o potencial de investir em inovação, criar empregos de qualidade e contribuir para o crescimento económico geral.
O orador concluiu a sua intervenção reiterando os principais pontos da sua apresentação. Ele enfatizou a necessidade de dar aos gestores do setor da saúde mais autonomia e controlo sobre os recursos humanos e financeiros. Carapuça argumentou que esta autonomia é essencial para uma gestão eficaz e para a implementação bem-sucedida de inovações tecnológicas e processuais.
Além disso, Carapuça reforçou a importância de uma transformação digital abrangente no setor da saúde. Ele argumentou que esta transformação deve ir além da mera implementação de novas tecnologias, envolvendo uma reestruturação fundamental dos processos e da organização como um todo.
O Presidente da Associação Portuguesa das Comunicações também reiterou a necessidade de criar um ambiente mais favorável ao investimento e ao crescimento empresarial em Portugal. Ele argumentou que sem grandes empresas competitivas a nível internacional, Portugal continuará a enfrentar desafios económicos significativos.
Carapuça concluiu a sua apresentação com um apelo à ação, desafiando os participantes do congresso a repensarem as abordagens tradicionais à gestão da saúde e a considerarem novas estratégias para impulsionar a inovação e a eficiência no setor. Ele expressou a sua convicção de que, com as mudanças certas, Portugal pode melhorar significativamente o seu sistema de saúde e, ao mesmo tempo, impulsionar o crescimento económico geral.
A intervenção de Rogério Carapuça no 10º Congresso Internacional dos Hospitais foi recebida com grande interesse pelos participantes. As suas ideias provocadoras e análises detalhadas geraram discussões animadas entre os profissionais de saúde, gestores e decisores políticos presentes no evento.
As propostas de Carapuça para uma maior autonomia na gestão hospitalar, uma transformação digital abrangente e um ambiente mais favorável ao investimento empresarial foram vistas como contribuições valiosas para o debate sobre o futuro do sistema de saúde português. Muitos participantes concordaram que estas questões são fundamentais para enfrentar os desafios atuais e futuros do setor da saúde em Portugal.
A comparação com outros países europeus, particularmente a Holanda e a Dinamarca, serviu como um alerta para a necessidade de Portugal acelerar o seu desenvolvimento económico e empresarial. A ideia de que o país precisa de desenvolver empresas de maior dimensão para competir a nível internacional e impulsionar o crescimento económico ressoou entre muitos dos presentes.
A crítica de Carapuça à excessiva burocracia e às restrições impostas aos gestores do setor público da saúde também encontrou eco entre os profissionais presentes. Muitos concordaram que uma maior flexibilidade e autonomia na gestão dos recursos humanos e financeiros poderia levar a melhorias significativas na eficiência e qualidade dos serviços de saúde.
A discussão sobre a transformação digital no setor da saúde foi particularmente bem recebida. Os participantes reconheceram a importância de uma abordagem holística à digitalização, que vá além da simples implementação de novas tecnologias e envolva uma reestruturação fundamental dos processos e da organização.
A proposta de Carapuça para uma gestão mais eficiente dos dados de saúde, com um sistema centralizado de consentimento, gerou um debate interessante sobre o equilíbrio entre a proteção da privacidade e a necessidade de utilizar dados para melhorar os cuidados de saúde e impulsionar a investigação.
No geral, a intervenção de Rogério Carapuça no 10º Congresso Internacional dos Hospitais foi vista como uma contribuição valiosa e estimulante para o debate sobre o futuro do sistema de saúde em Portugal. As suas ideias e propostas forneceram um ponto de partida para discussões mais aprofundadas sobre como melhorar a gestão, a inovação e a eficiência no setor da saúde, ao mesmo tempo que se promove o crescimento económico e o desenvolvimento empresarial no país.
0 Comments