António de Sousa Uva Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP)

+COVID-19: afinal não é uma onda espraiada e o canhão estava logo ao virar da esquina!

10/21/2020

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+COVID-19: afinal não é uma onda espraiada e o canhão estava logo ao virar da esquina!

21/10/2020 | Opinião

As três importantes diferenças antes apontadas em relação à primeira vaga já estão quase todas esbatidas. A pressão nas unidades prestadoras de cuidados de saúde de natureza clínica já se instalou largamente nos quatro dígitos (e três nas Unidades de Cuidados Intensivos), aparentemente em duas a três semanas voltaremos ao número de óbitos da 1ª vaga, as Unidades de Saúde Pública já têm dificuldade (ou não conseguem participar em tempo útil) na inquirição epidemiológica e, nas escolas (públicas, privadas, de ensino primário e secundário ou universitário) e nos lares (legais, ilegais e híbridos), sucedem-se os surtos que ainda vão sendo identificados e “tratados”.

Aparentemente, as empresas vão estando “poupadas”. O número de casos (diário ou semanal, por exemplo) também se isolou com grande avanço na dianteira em relação à primeira vaga e não sabemos quando será atingido o “pico”. O nosso governo, de posse por certo de muito mais elementos do que nós dispomos, decreta o estado de calamidade e, três meses depois, finalmente há uma decisão sobre o uso de máscaras em espaços exteriores muito “concorridos” (situação muito semelhante ao pretérito uso em espaços interiores que demorou igual tempo).

Não se pode dizer que estejamos a utilizar da melhor forma uma das boas estratégias de intervenção: a rapidez na adopção de medidas de prevenção. Já quanto à app vou evitar emitir opinião porque quero contribuir para a solução e não para o problema. Adicionalmente e apesar de tudo, finalmente algum reforço, ainda que demasiado tímido, nas unidades de Saúde Pública com mais recursos indispensáveis à exigência dessa rapidez na resposta se bem que, incompreensivelmente, outros recursos indispensáveis, como por exemplo os informáticos ou as comunicações se mantenham, em demasiadas situações, muito aquém daquilo que seria desejável. É que nunca sendo referido, as Unidades de Saúde Pública são parte integrante do SNS com um papel, no mínimo, tão importante como os Hospitais e os Centros de Saúde no combate à pandemia e os seus ventiladores são outros, mas não menos importantes ainda que as consequências imediatas não tenham o mesmo dramatismo.

A rapidez de actuação, deve repetir-se até à exaustão, é cada vez mais decisiva no combate à pandemia e, apesar disso, as estratégias de acção não acompanham muito, com a urgência necessária, o actual cenário epidémico. A montante de tudo isso está a actuação  de cada um de nós, e de uma forma simples: (i) evitar interagir com contacto físico com outras pessoas; (ii) se tiver que interagir, respeitar uma distância de pelo menos dois metros; (iii) usar máscara se não sempre, quase sempre, para proteger os outros (se todos usarem também é “outro”), ainda que também se esteja a proteger individualmente (primeiro EPO e depois EPI), mas não se esqueça que o uso da máscara é COMPLEMENTAR ao distanciamento e não ALTERNATIVO como por vezes se ouve na comunicação de risco; (iv) etiqueta respiratória e higiene das mãos e (v) se tiver sintomas (principalmente tosse ou febre) não contactar com os outros até esclarecer a sua situação. Na dúvida actue como se estivesse infectado até que os serviços à sua disposição o esclareçam. É uma espécie de estratégia “em queijo suíço” de James Reason e colaboradores de usar  “camadas de prevenção” que reduzam à mais ínfima  probabilidade o alinhamento dos “buracos do queijo” (leia-se infecção).

É que, de facto, as formas organizadas de combate à pandemia dirigidas à população (ou se se preferir as medidas de Saúde Pública), por melhores que sejam, dependerão sempre de cada um de nós individualmente e o que cada um de nós pode contribuir não é substituível por nada e muito menos a ameaça de coimas (“que não tapam buracos de queijo suíço”).

A “politização” da luta contra a pandemia, o “passa culpas” constante e a crítica destrutiva (ou até mesmo a perspectiva exclusivamente clínica da COVID-19 achando que as abordagens de Saúde Pública não servem para nada) ajudam mais o vírus do que o nosso combate a esta 2ª vaga, como temos tido disso alguns exemplos por esse mundo fora. O vírus faz o seu papel e a nós cabe-nos fazer o nosso: dificultar a sua “circulação” na comunidade (que não se faz só com o diagnóstico e tratamento dos casos) e proteger, o melhor que conseguirmos, os nossos concidadãos principalmente os mais vulneráveis e ainda tratar, o melhor possível, os nossos doentes TODOS (e não só os COVID-19).

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