14.ª Reunião VaP-APIC: Avanços e Desafios no Tratamento Percutâneo Valvular

03/19/2025
Entrevista exclusiva ao Healthnews com o Dr. Pedro Carrilho Ferreira, presidente da Comissão Organizadora da 14.ª Reunião VaP-APIC, que decorre nos dias 20 e 21 de março, no Dolce CampoReal, em Torres Vedras. O evento reúne especialistas nacionais e internacionais para debater inovações e tendências no tratamento percutâneo da doença valvular cardíaca, com foco na multidisciplinaridade e formação.

HealthNews (HN) – Como presidente da Comissão Organizadora da 14.ª Reunião VaP-APIC’25, pode explicar-nos qual é o principal objetivo deste evento e como ele se distingue de outras iniciativas na área da cardiologia?

Pedro Carrilho Ferreira (PCF) – A 14.ª Reunião VaP-APIC, que decorre em Torres Vedras nos dias 20 e 21 de março, tem como principal objetivo reunir a comunidade nacional de intervenção valvular percutânea, de forma a possibilitar a discussão dos avanços mais recentes e das principais tendências nesta área, a partilha de casos clínicos desafiantes e a troca de conhecimentos e experiências.

Esta reunião distingue-se de outras iniciativas na área da Cardiologia precisamente por ser a uma reunião exclusivamente focada no âmbito da intervenção estrutural valvular. De facto, esta área tem crescido de forma muito relevante em termos de importância e visibilidade nas últimas duas décadas, mas a reunião VaP-APIC é a única a nível nacional dedicada a esta área.

HN – A 14.ª Reunião VaP-APIC’25 tem como foco o tratamento percutâneo da doença valvular cardíaca. Quais são as principais inovações ou tendências que serão debatidas durante o evento e como é que estas podem impactar a prática clínica em Portugal?

PCF – Uma das características desta área da Cardiologia é o seu enorme dinamismo, com desenvolvimento quase constante de novos dispositivos e técnicas de intervenção, bem como alargamento das indicações e possibilidades de intervenção. Assim, esta reunião pretende ter um papel importante no apoio à atualização dos profissionais envolvidos nesta área, com um programa abrangente e com uma forte componente formativa.

Desta forma, durante os dois dias vamos discutir, por um lado, novas indicações para intervenção, como por exemplo a estenose aórtica grave assintomática ou a regurgitação aórtica, e por outro lado, novos dispositivos e técnicas e o papel que podem desempenhar no tratamento dos doentes valvulares.

HN – O programa científico do evento foi descrito como abrangente e com uma forte componente formativa. Pode detalhar como é que esta abordagem contribui para a melhoria do diagnóstico e tratamento dos doentes com doença valvular cardíaca?

PCF – Naturalmente o foco desta reunião é o tratamento percutâneo da doença valvular cardíaca, mas na elaboração do programa quisemos ter em conta todo o percurso do doente valvular, desde o aparecimento da sintomatologia, passando pelo diagnóstico e culminando no planeamento e execução da intervenção.

Estes são doentes complexos, frequentemente com diversas comorbilidades, e a sua abordagem requer o envolvimento de profissionais de diversas áreas distintas. Assim, procurámos que o programa tivesse um foco eminentemente prático, com utilização de casos clínicos exemplificativos, de forma a estimular a discussão entre os participantes e, dessa forma, contribuir para a melhoria do diagnóstico e tratamento destas patologias.

HN – A multidisciplinaridade é um dos pilares desta reunião. De que forma é que a colaboração entre diferentes especialidades dentro da cardiologia pode enriquecer a discussão e a tomada de decisão no tratamento dos doentes?

PCF – De facto, a abordagem da doença valvular cardíaca é o paradigma da multidisciplinaridade, o que é evidente pelo facto de ter sido nesta área que se popularizou o conceito de heart team. No tratamento destes doentes estão envolvidos não apenas cardiologistas de diversas áreas, nomeadamente clínicos, de imagem e de intervenção, mas também médicos de outras especialidades, como cirurgiões cardíacos, anestesistas e cirurgiões vasculares, e outros profissionais, como enfermeiros e técnicos de cardiopneumologia e de radiologia. Todos estes intervenientes desempenham um papel relevante no diagnóstico e tratamento da doença valvular.

O programa pretende refletir esta diversidade e estimular a discussão multidisciplinar, uma vez que acreditamos que apenas dessa forma será possível expandir e melhorar a abordagem da doença valvular no nosso país.

HN – Este evento reúne especialistas nacionais e internacionais. Como é que a partilha de experiências e conhecimentos entre os diferentes centros de referência pode influenciar o futuro da intervenção valvular em Portugal?

PCF – Desde a sua criação a reunião VaP-APIC sempre se constituiu como uma plataforma para os profissionais envolvidos partilharem conhecimentos e casos clínicos, discutirem a evidência científica mais recente e explorarem novos dispositivos e técnicas de intervenção.

Neste sentido, acreditamos que esta edição pode igualmente contribuir para os profissionais se manterem a par das tendências globais, de forma a facilitar a integração de novos métodos e abordagens na prática clínica dos nossos hospitais e, assim, alargar e melhorar a intervenção estrutural valvular em Portugal.

HN – A 14.ª Reunião VaP-APIC’25 é dirigida não apenas a profissionais de saúde, mas também a estudantes da área. Qual é a importância de envolver as novas gerações neste tipo de eventos e como é que isso pode contribuir para o avanço da cardiologia intervencionista em Portugal?

PCF –  Ao longo das últimas duas décadas temos assistido a um crescimento da intervenção valvular percutânea, que provavelmente seria inimaginável para a maioria de nós. Mas, na verdade, a tendência é que o crescimento se mantenha, uma vez que o aumento da esperança da vida da população e a melhoria e aumento da acessibilidade das técnicas de diagnóstico, provavelmente associados à expansão das indicações para intervenção, vão fazer com o que o número de doentes que nos procura com necessidade deste tipo de tratamento continue a expandir-se.

Assim, a comunidade tem de refletir de que forma irá encarar esta realidade e que estratégias serão necessárias para conseguir aumentar o número de intervenção e reduzir o tempo em lista de espera e, nesse sentido, a formação e treino das novas gerações terá, naturalmente, um papel fundamental na evolução desta área.

Entrevista de MMM

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Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa.
Centro de Investigação em Saúde Pública (CISP), Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa.

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