Conselho de Ética alerta para sérios riscos da inseminação caseira na saúde da mulher

15 de Abril 2025

O Conselho Nacional de Ética alertou hoje que a “inseminação caseira” representa “um sério risco” para a saúde da mulher, é ineficaz e em certos casos motivada pelo desespero face à falta de resposta do SNS à infertilidade.

“A confirmar-se esta prática, podemos dizer que, em primeiro lugar, protagoniza um sério risco para a saúde da mulher”, disse a presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), Maria do Céu Patrão Neves, num comentário à agência Lusa sobre a manchete do Correio da Manhã com o título “Mulheres engravidam em casa sem sexo”.

Segundo o jornal, trata-se de um método em que, sem relação sexual e sem médicos, é inserido esperma na vagina com recurso a uma seringa.

Maria do Céu Patrão Neves disse não ter informação rigorosa e objetiva sobre esta prática, mas referiu que “rumores, boatos, acerca da mesma já datam de há muito tempo”.

Advertiu que, nesta prática, estão implicadas questões de higiene e de segurança, sendo que não está “totalmente afastada a possibilidade de lesões no aparelho genital feminino, que possa, inclusivamente, agravar a situação de infertilidade” de que “a mulher deverá padecer para tomar este tipo de iniciativa”.

No seu entender, esta situação também se deve a falta de literacia na área da saúde ou mesmo “ignorância nesta matéria”, porque, vincou, “a eficácia deste método caseiro, para além das questões de higiene e segurança, é rigorosamente nula, ou residualmente nula”.

“Por isso, está-se a arriscar a integridade do corpo da mulher para um benefício inexistente”, alertou, defendendo que devia haver “mais formação na área da saúde, mais conhecimento, para evitar este tipo de prática”.

A presidente da CNECV disse ainda que recorrer a este método pode ser supostamente causado por “um certo desespero perante a infertilidade e perante a falta de resposta do Serviço Nacional de Saúde”.

Enfatizou que as listas de espera para tratamentos de fertilidade no SNS “são realmente enormes”, com a agravante de que, “quando se falha num ciclo, e a média de sucesso aponta para falhar o primeiro ou o segundo ciclo, volta-se outra vez para o princípio da fila de espera”.

Segundo a responsável, esta situação pode implicar anos de espera até uma gravidez.

“Como nós sabemos, a maioria das mulheres hoje procura uma primeira gravidez já numa idade mais avançada. Se descobre ser infértil, se tem que esperar anos para conseguir um ciclo com sucesso, uma gravidez efetiva, corre ainda o risco de ultrapassar a data limite para ser assistida nas consultas de infertilidade no Serviço Nacional de Saúde”, explicou.

Por estas razões, Maria do Céu Patrão Neves disse suspeitar que haverá nesta situação “também um certo desespero, por não se encontrar solução para as questões de infertilidade e não se ter a alternativa de recorrer a clínicas privadas, cujo preço é efetivamente muito elevado e que não estará ao alcance da maior parte das mulheres que sofre de infertilidade”.

O Correio da Manhã divulga o testemunho de um dador de sémen, em que afirma que se limita a fazer a recolha do seu esperma para um copo e entregar.

“O processo de recolha e de inseminação deve durar no máximo 30 minutos, convém não perder muito tempo”, diz João, nome fictício.

Segundo o jornal, é no Facebook, em grupos privados, que se encontram os homens dispostos a doar sémen e as mulheres que querem engravidar.

O CM entrou em alguns grupos de inseminação caseira – em Portugal e no Brasil – e verificou que são constituídos sobretudo por casais de lésbicas e mulheres solteiras, mas também casais heterossexuais.

lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights