Uma equipa internacional liderada pela Universidade de Bona anunciou a descoberta de um novo composto bioativo com potencial para revolucionar o tratamento de alergias difíceis de controlar, incluindo síndromes como a asma grave, urticária crónica, prurido persistente, enxaqueca e até situações de anafilaxia. Estas condições partilham um mecanismo comum: uma resposta imunitária desregulada, frequentemente mediada pelos mastócitos, células do sistema imunitário que libertam substâncias inflamatórias em resposta a estímulos diversos.
O foco do estudo recaiu sobre o receptor MRGPRX2, presente na membrana dos mastócitos. Este receptor tem vindo a ser associado a reações inflamatórias graves, nomeadamente em situações de hipersensibilidade não alérgica e reações adversas a medicamentos, sendo a sua ativação responsável por episódios de inflamação local severa e potencialmente fatais. A equipa de investigação procurou identificar moléculas capazes de bloquear especificamente este “interruptor” biológico, impedindo assim a cascata inflamatória.
Após a triagem de cerca de 40 mil compostos, os cientistas identificaram uma molécula com elevada afinidade para o MRGPRX2, que foi posteriormente otimizada para aumentar a sua potência e duração de ação. Ensaios realizados em modelos animais demonstraram que o bloqueio deste receptor eliminou completamente reações alérgicas potencialmente fatais em ratinhos. O composto revelou-se igualmente eficaz em células humanas isoladas, prevenindo a libertação de mediadores inflamatórios pelos mastócitos.
Uma das grandes vantagens do novo composto é a sua seletividade: bloqueia apenas o MRGPRX2, reduzindo o risco de efeitos secundários indesejados. Isto abre caminho ao desenvolvimento de um medicamento inovador para doentes com alergias graves, em especial aqueles que não respondem aos tratamentos convencionais ou que sofrem de reações adversas a medicamentos. O bloqueio do MRGPRX2 poderá também prevenir episódios de choque anafilático, uma das complicações mais temidas em contexto clínico2.
O estudo, que envolveu instituições de renome como a KU Leuven, Universidade da Pensilvânia, Charité Berlin, Ruhr University Bochum, Jagiellonian University de Cracóvia e Erlangen University Hospital, foi publicado na revista Signal Transduction and Targeted Therapy. O financiamento foi assegurado pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa alemão e pelos National Institutes of Health dos EUA.
Os próximos passos incluem ensaios adicionais em animais e humanos para avaliar a segurança e eficácia do composto, com vista à sua futura aprovação como medicamento. Se os resultados se confirmarem, esta descoberta poderá beneficiar milhares de pessoas com doenças inflamatórias do trato gastrointestinal, pulmonar e nervoso, bem como pacientes com prurido crónico ou outras doenças cutâneas inflamatórias, melhorando significativamente a qualidade de vida e a esperança média de vida destes doentes.
Referência: Publication: Ghazl Al Hamwi et. al.: Subnanomolar MAS-related G protein-coupled receptor-X2/B2 (MRGPRX2/B2) antagonists with efficacy in human mast cells and disease models; Signal Transduction and Targeted Therapy; DOI: 10.1038/s41392-025-02209-8.
NR/HN/AlphaGalileo
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