Decorre na próxima quinta-feira, dia 10, o webinar “Tenho Diabetes: Como não perder a motivação e sentir-me mais acompanhado”. Cristina Valadas, Diretora do Serviço de Endocrinologia no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures e uma das intervenientes agendadas para quinta-feira fala-nos das dificuldades vividas por estes doentes e da necessidade de manter o contacto, quer presencial ou à distância.
HealthNews (HN) – Falar de “acompanhamento” e de promover a sensação de se estar “mais acompanhado” em tempos de pandemia é um desafio. Qual o ângulo de abordagem que irão propor no webinar?
Cristina Valadas (CV) – A relação que se estabelece entre o médico e a pessoa com diabetes, tal como em outras doenças crónicas, é uma relação de longo prazo que deve ser baseada na confiança, no conhecimento do outro e na qual a proximidade tem um papel fundamental.
Nesta situação que vivemos de uma crise pandémica, tudo se alterou e ambos, médicos e utentes tiveram de aprender a gerir a proximidade versus distanciamento, de forma diferente.
Sendo um desafio, o mais importante é no entanto, perceber que distanciamento físico não tem, nem deve ser sinónimo de isolamento ou solidão. É possível utilizando os meios tecnológicos que hoje temos ao dispor, manter o contacto, dar e receber informação, transmitir objetivos a atingir, manter os limites de segurança e até ajudar a manter a motivação, num acompanhamento à distância. É disto tudo que falaremos neste Webinar.
HN – Muitos doentes não são vistos pelos seus médicos assistentes há meses. Intervir neste campo poderia ajudar ao tal sentimento de maior proteção?
CV –A pandemia trouxe o cancelamento de muitas consultas presenciais e dificuldades de acesso direto aos cuidados de saúde. Tivemos e temos de reinventar novas formas de ultrapassar esta crise, mantendo o contacto e o acompanhamento mesmo à distância. Mas obviamente a relação de proximidade presencial é insubstituível na sua totalidade, ao contribuir para o reforço da relação que se estabelece entre duas pessoas!
HN – No entanto, pese a importância da medida, a verdade é que não se vêm sinais de que esteja a ser implantada a nível nacional. Como se explica esta lacuna?
CV –Temos de nos lembrar que os tempos são de pandemia, com necessidade imediata de resposta aos doentes infetados, muitos dos quais em situações muito graves, e que por isso todos os profissionais de saúde contam! O sector da saúde, desde há muito tempo que vinha a ser sinalizado como um sector deficitário em termos de recursos humanos. Numa situação de pandemia é necessário priorizar e dar resposta imediata àquilo que nos assola, e daí o desviar de todos os recursos disponíveis para a pandemia, obviamente, diminuindo a resposta a todas as outras patologias, nomeadamente a diabetes.
HN – Qual tem sido o principal impacto das contingências associadas à pandemia neste grupo de doentes?
CV –Eu diria que o acompanhamento destes doentes, mesmo se feito á distancia, não sendo o ideal, permite mesmo assim, uma avaliação da situação, minimizando os riscos.
O que me preocupa mesmo, são os doentes que estando isolados, muitos deles mesmo a morar sozinhos, não recorrem aos serviços, às consultas nem mesmo à urgência. Muitos deles, não têm sequer a noção da eventual gravidade da sua situação e por medo do contágio ou por dificuldade de acesso ou deslocação, mantêm-se em situações de descompensação ou com complicações a evoluir que não são devidamente diagnosticadas e atempadamente tratadas.
HN – Vai ser possível voltar à normalidade anterior ou vão subsistir mazelas?
CV –O tempo o dirá… Quanto mais depressa conseguirmos chegar a esses doentes, fazê-los vir até nós ou comunicarmos com eles, mais depressa se reverterá situações e limitará danos. Obviamente que a duração da pandemia, em última análise, será sempre o fator determinante para o prognóstico desta situação tão difícil, em que as pessoas com doença crónica se encontram.
HN – Quais as principais mensagens que este webinar pretende transmitir?
CV- Este webinar quer transmitir às pessoas com diabetes que tem de manter a sua voz audível, mesmo durante a pandemia. É importante manter os canais de comunicação abertos, com os seus profissionais de saúde, tanto na comunidade, como nos cuidados primários e nos hospitais, procurando respostas e orientações para os problemas que enfrentam no dia-a-dia.
As respostas podem ser ou não de forma presencial, mas o importante é que as situações sejam equacionadas e as respostas sejam dadas de forma clara e atempada. Com os atuais meios tecnológicos e de comunicação ao nosso dispor, podemos dar e receber informação sobre as pesquisas glicémicas feitas em casa e os nossos utentes devem saber avaliar o seu controlo, ter a noção de objetivos a atingir e sobretudo saberem quando e como contactar, de imediato, em situações de risco ou urgência.
Entrevista de João Marques
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