Entrevista Cristina Valadas: “Tivemos reinventar novas formas de ultrapassar esta crise”. Os doentes com diabetes e a pandemia

12/07/2020
Decorre na próxima quinta-feira,  dia 10, o webinar “Tenho Diabetes: Como não perder a motivação e sentir-me mais acompanhado” Cristina Valadas, Diretora do Serviço de Endocrinologia no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures e uma das intervenientes agendadas para quinta-feira fala-nos das dificuldades vividas por estes doentes e da necessidade de manter o contacto, quer presencial ou à distância

Decorre na próxima quinta-feira,  dia 10, o webinar “Tenho Diabetes: Como não perder a motivação e sentir-me mais acompanhado”. Cristina Valadas, Diretora do Serviço de Endocrinologia no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures e uma das intervenientes agendadas para quinta-feira fala-nos das dificuldades vividas por estes doentes e da necessidade de manter o contacto, quer presencial ou à distância.

 HealthNews (HN) – Falar de “acompanhamento” e de promover a sensação de se estar “mais acompanhado” em tempos de pandemia é um desafio. Qual o ângulo de abordagem que irão propor no webinar?
Cristina Valadas (CV) – A relação que se estabelece entre o médico e a pessoa com diabetes, tal como em outras doenças crónicas, é uma relação de longo prazo que deve ser baseada na confiança, no conhecimento do outro e na qual a proximidade tem um papel fundamental.

Nesta situação que vivemos de uma crise pandémica, tudo se alterou e ambos, médicos e utentes tiveram de aprender a gerir a proximidade versus distanciamento, de forma diferente.

Sendo um desafio, o mais importante é no entanto, perceber que distanciamento físico não tem, nem deve ser sinónimo de isolamento ou solidão. É possível utilizando os meios tecnológicos que hoje temos ao dispor, manter o contacto, dar e receber informação, transmitir objetivos a atingir, manter os limites de segurança e até ajudar a manter a motivação, num acompanhamento à distância. É disto tudo que falaremos neste Webinar.

 

HN – Muitos doentes não são vistos pelos seus médicos assistentes há meses. Intervir neste campo poderia ajudar ao tal sentimento de maior proteção?
CV –
A pandemia trouxe o cancelamento de muitas consultas presenciais e dificuldades de acesso direto aos cuidados de saúde. Tivemos e temos de reinventar novas formas de ultrapassar esta crise, mantendo o contacto e o acompanhamento mesmo à distância. Mas obviamente a relação de proximidade presencial é insubstituível na sua totalidade, ao contribuir para o reforço da relação que se estabelece entre duas pessoas!

HN – No entanto, pese a importância da medida, a verdade é que não se vêm sinais de que esteja a ser implantada a nível nacional. Como se explica esta lacuna?
CV –
Temos de nos lembrar que os tempos são de pandemia, com necessidade imediata de resposta aos doentes infetados, muitos dos quais em situações muito graves, e que por isso todos os profissionais de saúde contam! O sector da saúde, desde há muito tempo que vinha a ser sinalizado como um sector deficitário em termos de recursos humanos. Numa situação de pandemia é necessário priorizar e dar resposta imediata àquilo que nos assola, e daí o desviar de todos os recursos disponíveis para a pandemia, obviamente, diminuindo a resposta a todas as outras patologias, nomeadamente a diabetes.

HN – Qual tem sido o principal impacto das contingências associadas à pandemia neste grupo de doentes?
CV –
Eu diria que o acompanhamento destes doentes, mesmo se feito á distancia, não sendo o ideal, permite mesmo assim, uma avaliação da situação, minimizando os riscos.

O que me preocupa mesmo, são os doentes que estando isolados, muitos deles mesmo a morar sozinhos, não recorrem aos serviços, às consultas nem mesmo à urgência. Muitos deles, não têm sequer a noção da eventual gravidade da sua situação e por medo do contágio ou por dificuldade de acesso ou deslocação, mantêm-se em situações de descompensação ou com complicações a evoluir que não são devidamente diagnosticadas e atempadamente tratadas.

 HN – Vai ser possível voltar à normalidade anterior ou vão subsistir mazelas?
CV –
O tempo o dirá… Quanto mais depressa conseguirmos chegar a esses doentes, fazê-los vir até nós ou comunicarmos com eles, mais depressa se reverterá situações e limitará danos. Obviamente que a duração da pandemia, em última análise, será sempre o fator determinante para o prognóstico desta situação tão difícil, em que as pessoas com doença crónica se encontram.

HN – Quais as principais mensagens que este webinar pretende transmitir?
CV-
Este webinar quer transmitir às pessoas com diabetes que tem de manter a sua voz audível, mesmo durante a pandemia. É importante manter os canais de comunicação abertos, com os seus profissionais de saúde, tanto na comunidade, como nos cuidados primários e nos hospitais, procurando respostas e orientações para os problemas que enfrentam no dia-a-dia.

As respostas podem ser ou não de forma presencial, mas o importante é que as situações sejam equacionadas e as respostas sejam dadas de forma clara e atempada. Com os atuais meios tecnológicos e de comunicação ao nosso dispor, podemos dar e receber informação sobre as pesquisas glicémicas feitas em casa e os nossos utentes devem saber avaliar o seu controlo, ter a noção de objetivos a atingir e sobretudo saberem quando e como contactar, de imediato, em situações de risco ou urgência.

Entrevista de João Marques

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