PM de Cabo Verde pede à sociedade para não ver isolamento de doentes com a covid-19 como castigo

7 de Maio 2020

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, apelou hoje a que a sociedade não veja como “um castigo” o isolamento de pessoas infetadas com covid-19, quando o país conta com cerca de 150 doentes nessa situação.

“O isolamento de pessoas infetadas com a covid-19 não deve ser visto como um castigo e nem como a marcação da pessoa infetada junto da sociedade e da comunidade onde ela vive. Pelo contrário, é um ato que deve ser valorizado positivamente”, afirmou o chefe do Governo.

De acordo com as autoridades de saúde cabo-verdianas, apesar de cerca de 75% dos doentes com covid-19 no país estarem assintomáticos – e a generalidade dos restantes com sintomas leves a moderados -, para já todos são internados e ficam em isolamento, com tratamento hospitalar, e não no domicílio, como noutros países.

O último balanço da Direção Nacional de Saúde aponta que estão hoje internados em isolamento, em todo o país, 128 doentes com covid-19 na Praia e dois no Tarrafal (ilha de Santiago), e 19 na ilha da Boa Vista (desde 19 de março já foram diagnosticados 191 casos em Cabo Verde).

Além disso, 484 pessoas estão em quarentena, essencialmente contactantes com casos confirmados. Desses, 143 estão em quarentena domiciliar e 341 em quarentena obrigatória, controlados pelas autoridades (dos quais 311 na Praia).

“A pessoa infetada, sem sintomas de doença, que vai para o isolamento, está a contribuir para que o vírus não propague, não atinja outras pessoas. Por outro lado, estando em isolamento estará a ser seguido e mais facilmente será sujeito a intervenção médica se a infeção evoluir para a doença”, insistiu, na mesma mensagem, o primeiro-ministro.

Numa altura em que surgem vários alertas sobre a aparente relaxamento da população às medidas de proteção social impostas para conter a propagação da doença, o chefe do Governo deixa o alerta de que “durante o isolamento é exigido um comportamento responsável”.

“O lugar de isolamento não é espaço para festas e nem para minimizar os efeitos do vírus. Transmitir para a sociedade a ideia de que a covid-19 é uma brincadeira, poderá colocar em risco muitas outras pessoas que não são tão saudáveis ou tão jovens quanto os que ‘abrem o peito’ ao vírus”, acrescentou.

Cabo Verde conta com 38 casos de doentes recuperados, além de dois óbitos e dois turistas estrangeiros infetados e que regressaram ainda em março aos países de origem. Com a saída do hospital no Mindelo, na quarta-feira, de uma cidadã chinesa, a ilha de São Vicente deixou de ter casos ativos de covid-19 (três casos desde março, na mesma família e todos recuperados).

“Cada assintomático recuperado deve ser motivo de celebração. E considera-se recuperado segundo critérios médicos, depois da realização de testes com resultados negativos. Não deve haver drama na entrada para o isolamento. Na saída deve haver celebração porque uma vez recuperada, a pessoa que estava infetada não transmitirá o vírus a outras pessoas. Deve ser celebrada porque a pessoa deu uma contribuição positiva para a redução da transmissão do vírus”, enfatizou Ulisses Correia e Silva.

Recordando que “quanto menos transmissões houver, mais controlada será a propagação do vírus” no país, o primeiro-ministro garantiu que também “mais rapidamente todos se libertam das restrições mais duras à vida social e económica que todos estão a viver e a sentir”.

Cabo Verde vive atualmente o terceiro período de estado de emergência, decretado pela primeira vez em 29 de março pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, mas agora, e até às 24:00 de 14 de maio, apenas nas ilhas de Santiago e da Boa Vista, que concentram os casos de covid-19 no arquipélago.

“Não temos que mostrar músculos à covid-19, mas sim sermos inteligentes no seu combate, cumprir as regras e as instruções das autoridades e não induzir nos outros comportamentos que só prejudicam a todos”, concluiu o primeiro-ministro.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 260 mil mortos e infetou cerca de 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

LUSA/HN

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