António Guterres diz que pandemia continua a causar “tsunami de ódio e xenofobia”

8 de Maio 2020

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse hoje que a pandemia da covid-19 continua a desencadear "um tsunami de ódio e xenofobia".

O chefe da ONU afirmou que “o sentimento contra estrangeiros aumentou ‘online’ e nas ruas, as teorias de conspiração antissemitas espalharam-se, e ocorreram ataques contra muçulmanos relacionados com a covid-19”.

Guterres sublinhou que migrantes e refugiados “foram difamados como fonte do vírus, e depois negaram-lhes acesso a tratamento médico”.

“Com os idosos entre os mais vulneráveis, surgiram ‘memes’ [imagens virais] desprezíveis, sugerindo que eles também são os mais descartáveis”, alertou. “E jornalistas, denunciantes, profissionais de saúde, trabalhadores humanitários e defensores dos direitos humanos estão a ser alvejados simplesmente por fazerem seu trabalho”, acrescentou.

Guterres apelou a “um esforço total para acabar globalmente com o discurso de ódio”.

O secretário-geral exortou os líderes políticos a expressarem solidariedade com todas as pessoas, as instituições de ensino a concentrarem-se na “alfabetização digital”, num momento em que “os extremistas procuram garantir audiências prisioneiras e potencialmente desesperadas”.

Por outro lado, o líder da ONU desafiou os ‘media’, sobretudo aqueles com presença nas redes sociais, a “remover o conteúdo racista, misógino e outro que seja prejudicial”, e a sociedade civil a fortalecer o contacto com as pessoas vulneráveis, bem como os líderes religiosos a servirem como “modelos de respeito mútuo”.

“E peço a todos, em todos os lugares, que se levantem contra o ódio, que se tratem com dignidade e aproveitem todas as oportunidades para espalhar bondade”, salientou Guterres.

Sobre a doença, António Guterres sublinhou: “não se importa com quem somos, onde vivemos, no que acreditamos ou sobre qualquer outra distinção”.

O apelo global para combater o discurso de ódio relacionado com a covid-19 surge após a mensagem de 23 de abril, quando apelidou a pandemia de “uma crise humana que está rapidamente a tornar-se numa crise de direitos humanos”.

Guterres disse então que a pandemia teve “efeitos desproporcionais em certas comunidades, levou ao aumento do discurso de ódio, da segmentação de grupos vulneráveis e dos riscos de opções securitárias que minam a resposta à saúde”.

Com o “crescente etno-nacionalismo, populismo, autoritarismo e retrocesso nos direitos humanos em alguns países, a crise pode fornecer um pretexto para a adoção de medidas repressivas para propósitos não relacionados com a pandemia”, alertou.

Em fevereiro, Guterres fez um apelo à ação de países, empresas e pessoas para ajudar a renovar e reviver os direitos humanos em todo o mundo, estabelecendo um plano de sete pontos relacionado com as mudanças climáticas, conflitos e repressão.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 269 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

LUSA/HN

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