A especialista, que vai ser uma das oradoras num ciclo de conferências sobre longevidade promovido pela Culturgest, em Lisboa, defendeu que a revolução digital que se instalou nos últimos anos há muito que “inundou” a área de saúde e bem-estar e que esse manancial de dados não pode ser menosprezado na definição de um novo modelo.
“Depois de anos de evolução, hoje é possível fazer uso de todas as capacidades tecnológicas. O momento chegou para que usemos os aplicativos móveis que permitem controlar a saúde e partilhar os dados. São os ‘Digital Health Devices’, que nos permitem monitorizar permanentemente parâmetros funcionais e saber, antes de os problemas ganharem forma, que cuidados devemos tomar”, explicou Ana Teresa Freitas, que adianta que a verdadeira revolução reside num binómio a que se junta a genética.
“O acesso ao nosso genoma é determinante para qualquer modelo de medicina preventiva. É a nossa informação genética. Cada vez mais sabemos como usá-la e interpretá-la, e isso vai permitir-nos explicar como o organismo funciona e prevenir doenças que resultam da fragilidade do genoma na interação com o meio ambiente”, esclareceu a professora catedrática do IST.
Ana Teresa Freitas elucidou que esta informação genética “nos diz como a pessoa é e não como a pessoa está naquele momento”, informação que associada à recolhida pelos dispositivos tecnológicos “vai criar a plataforma de dados necessária para uma medicina baseada no valor, focada no doente e não na doença”.
A cientista lembrou que viver mais anos de forma saudável não é algo novo e que “já Hipócrates falava de medicina focada na pessoa, olhando-a como um todo”. A novidade, acentuou, passa pelo modelo organizativo que temos de implementar para que o doente passe a estar no centro do sistema.
“Temos de mudar o paradigma, e isso implica mudar imenso a forma como nos organizamos: temos de dar capacidade às pessoas de se autocontrolarem, fazerem uma monitorização da sua saúde, pois só assim podem ajudar o sistema”, garante.
Num processo que considerou inevitável, Ana Teresa Freitas disse que no século XXI devemos trabalhar para implementar a terceira fase da longevidade, procurar “viver mais e melhor para morrer saudável”.
“Do ponto de vista biológico está provado que conseguimos viver até aos 130 anos. O desafio passa por encurtar o sofrimento num período final. Trabalhar para isso implica uma transformação radical na saúde, a começar pela classe médica, cujos profissionais cada vez mais serão consultores de saúde. Serão decisivos no acompanhamento do doente, mas num papel diferente e que têm de acompanhar”, pediu a investigadora, que sublinhou ainda, uma vez mais, o papel da genética no futuro.
“É um campo de grande potencial. Não é o destino, mas permite-me controlar o meu destino”, sintetizou.
Numa parceria científica com o Instituto Superior Técnico e a Nova Medical School, a Culturgest promove nos próximos dias 20 de maio, 03 e 23 de junho uma reflexão e debate sobre o tema “Longevidade: Precisão, Implicações Sociais, Regeneração”, avaliando o impacto da inteligência artificial e das tecnologias baseadas no conhecimento genético na gestão da doença, e a avaliação de como podem contribuir para um envelhecimento tardio com melhor qualidade de vida.
LUSA/HN
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