Tenho escrito várias vezes sobre enfermagem, os problemas, desafios e expectativas para o futuro. Neste dia internacional do enfermeiro, creio ser uma boa altura para abordar um ângulo diferente: o do utente. Os enfermeiros e enfermeiras são, naturalmente, os advogados do utente. Pelo maior tempo de contacto, pela interação e formação vocacionada para esta vertente, é natural que sejam os enfermeiros, no seu trabalho diário, os primeiros a tomar a defesa do ponto de vista dos utentes.
No entanto, há um problema de exposição mediática. Se os enfermeiros estão, como classe profissional, virtualmente ausentes do espaço público, diminui desta forma a influência que os utentes têm nas decisões que os afectam. Há vários motivos para lutar pela presença de representação mediática de enfermeiros. Este é mais um, a defesa do ponto de vista e dos legítimos interesses dos utentes.
A governança para a saúde, deve incluir todos os atores relevantes do sector, incluindo obrigatoriamente os utentes. Infelizmente, tal não é verdade. Há várias estratégias para centrar os cuidados nos utentes, mas seja qual for o caminho escolhido, não se faz sem a participação ativa e envolvimento do cidadão. As reformas que o SNS precisa ou a forma de prestar os cuidados necessários, têm de ser refletidas e discutidas com os utentes.
O expectável e saudável crescimento da hospitalização domiciliária, centraliza o papel do utente e sua família na gestão dos cuidados de saúde. Desta forma, podemos avançar para um verdadeiro paradigma de parceria de cuidados. Há vários ganhos associados a esta evolução, como o aumento da dignidade, a capacitação do utente e sua família, a melhoria da qualidade de vida e a promoção da saúde mental.
Centrar os cuidados no utente e sua família, passa também por alinhar os objectivos destes com os do SNS. Isto significa dar destaque e importância às suas reivindicações e pedidos. A missão, os valores e as melhorias de qualidade dos prestadores têm de ir ao encontro à visão do cidadão. Sabemos que o cuidar transcende apenas a dimensão física. Exigir melhorias estéticas não deve secundarizado como supérfluo, um bom serviço é também aquele que consegue ser atractivo.
O SNS tem vários desafios para o futuro próximo, entre os quais, o avanço da transição digital. É fundamental que os objetivos da transição estejam bem definidos. Centrar os cuidados no cidadão tem necessariamente de ser um deles. Isto implica um esforço em medidas como o processo de utente único, aplicações de telemóvel que sejam fáceis de utilizar, aumento de cobertura da telessaúde, tanto na vertente de consultas, como nos exames complementares de diagnóstico.
Os profissionais de saúde prestam um serviço que é essencial à democracia e à coesão social. Sabemos que o SNS só permanece uma instituição relevante se for universal. Não se pode transformar numa instituição caritativa para pobres, pois isso significaria, inevitavelmente, um serviço pobre e desigual. Neste dia internacional do enfermeiro, é importante relembrar que quem cuidamos, merece ser sujeito ativo, um verdadeiro parceiro de cuidados.
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