“Num sistema de saúde frágil como é o nosso, historicamente subfinanciado e politicamente desprezado, parece hoje claro que os enfermeiros portugueses chegaram antes de tempo. O seu papel só agora começa a ficar claro aos olhos da opinião pública. A hora do reconhecimento é agora e as palmas não bastam”, declarou Ana Rita Cavaco.
A bastonária falava num “webinar´ para assinalar o Dia Internacional do Enfermeiro e subordinado ao tema “Os Enfermeiros e os desafios para a saúde”, iniciativa que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Lembrando ter sido importante no seu mandato criar um lema que unisse os enfermeiros em torno de um ideal e uma missão, a bastonária referiu que hoje, “olhando para trás, já ninguém imagina a enfermagem portuguesa sem esta frase: “Ninguém está sozinho”.
“Tornou-se muito mais do que um lema dos enfermeiros portugueses. É um porto de abrigo, um recanto de energia, uma bolsa de oxigénio para os momentos difíceis. Na verdade, se todos cumprirmos aquilo que a mãe da enfermagem moderna (Florence Nightingale) nos ensinou, ninguém ficará sozinho. Nem doentes, nem enfermeiros”, disse.
Segundo Ana Rita Cavaco, o Dia Internacional do Enfermeiro comemora-se hoje numa altura “particularmente delicada”, mas justamente na data que coincide com o dia do nascimento de Florence Nightingale, “a primeira mulher a bater-se pelas boas práticas no controlo de infeção”.
Recordou a propósito que durante a Guerra da Crimeia, esta “mãe da enfermagem moderna” impôs a obrigatoriedade da lavagem das mãos e revolucionou as práticas de higiene nos hospitais de campanha britânicos e, passados quase 200 anos, hoje o mundo “entende, melhor do que nunca a obra desta enfermeira e o seu inegável contributo” para a evolução da Saúde Pública.
“Foi preciso tempo para o mundo compreender o papel de Florence. Foi também preciso tempo para os portugueses entenderem o contributo fundamental dos enfermeiros. A verdade é que o tempo corre quase sempre contra os visionários, os artistas, aqueles que chegam antes do tempo”, disse a bastonária.
Em seu entender, num “sistema de saúde frágil” como é o caso português, “historicamente subfinanciado e politicamente desprezado”, parece hoje claro que os enfermeiros portugueses chegaram “antes de tempo” e o seu papel só agora começa a ficar claro aos olhos da opinião pública.
“Quanto vale não deixar ninguém sozinho? É esta a pergunta que deve nortear as decisões políticas de futuro no que diz respeito à saúde. Um país que continua a injetar milhões para salvar bancos parece que não aprendeu nada com este vírus”, questionou Ana Rita Cavaco.
Entretanto, uma nota da Ordem dos Enfermeiros sublinha, a propósito deste dia, que o evento assume particular importância este ano, quando se combate a pandemia da covid-19 e os enfermeiros estão “na linha da frente da prestação de cuidados”.
LUSA/HN
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