Programa Alargado de Vacinação recuou 41% em 2020 no norte de Moçambique

3 de Junho 2021

O número de beneficiários de ações de vacinação em Cabo Delgado, norte de Moçambique, caiu 41% em 2020, refere o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no relatório anual consultado esta quinta-feira pela Lusa.

Dados do Ministério da Saúde moçambicano citados pelo UNICEF indicam que Cabo Delgado “registou o maior declínio na cobertura do Programa Alargado de Vacinação (PAV) de 100% [de cobertura] em 2019 para 59% em 2020”.

“O conflito recrudescente e a insegurança em Cabo Delgado resultaram em deslocações em massa” e o retrocesso na vacinação é uma das consequências.

Grupos insurgentes realizaram “ataques violentos contra civis e destruíram infraestruturas, o que levou à interrupção dos serviços essenciais, incluindo unidades sanitárias, sistemas de abastecimento de água, furos e escolas”, detalha o relatório.

Ao declarar Cabo Delgado uma “emergência de nível 2”, o UNICEF “reforçou e ampliou a sua resposta humanitária às crianças”, acrescenta.

Além da violência e de fuga em massa de população, houve também um surto de cólera nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, adensando os fatores que contribuíram para “a terrível situação das pessoas que tinham sido afetadas por recentes choques climáticos” – refere o UNICEF, numa alusão aos ciclones que se têm abatido sobre Moçambique.

À violência e ciclones juntou-se a crise provocada pela covid-19.

“Para as cerca de 10 das 14 milhões de crianças moçambicanas que já viviam na pobreza, as várias crises de 2020 empurraram-nas para uma maior vulnerabilidade, pondo em risco os seus direitos básicos”, nota o relatório do UNICEF.

“Apenas um ano após dois ciclones tropicais consecutivos terem devastado partes de Moçambique, o país viu-se mergulhado na pandemia global da Covid-19 e num conflito armado cada vez mais complexo em Cabo Delgado”, acrescenta.

Grupos armados aterrorizam a província nortenha desde 2017, com alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.

O número de deslocados aumentou com o ataque contra a vila de Palma em 24 de março, uma incursão que provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.

As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas aquele ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico na próxima década.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Netanyahu recebe alta hospitalar após cirurgia à próstata

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, teve hoje alta hospitalar, quatro dias após ser submetido a uma intervenção cirúrgica à próstata, embora tenha abandonado brevemente o hospital dois dias antes para participar numa votação parlamentar do orçamento.

MSF alerta para a vulnerabilidade das crianças em Gaza durante o inverno

A organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou hoje a situação de vulnerabilidade que as crianças em Gaza enfrentam durante o inverno, após três bebés terem morrido de hipotermia devido à deterioração das condições de vida da população.

ULS de Coimbra recebe 209 novos Médicos Internos

A Unidade Local de Saúde de Coimbra deu as boas-vindas a 209 novos Médicos Internos, reforçando o compromisso com a formação médica e apelando a um compromisso sério com o Serviço Nacional de Saúde

Pedro Marques deixa Terceira para assumir ULS Lezíria

O presidente do conselho de administração do Hospital do Divino Espírito Santo da Ilha Terceira (HSEIT), nos Açores, Pedro Marques, deixou de exercer funções, segundo uma nota divulgada hoje pela unidade de saúde.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights