A antiga lenda da natação mundial e membro da Academia Laureus Mark Spitz disse hoje que o novo coronavírus vai mudar no futuro a forma como o mundo lida com as coisas, em declarações à Laureus.com.
“Penso que o coronavírus vai mudar a forma como fazemos muitas coisas no dia a dia, não só a forma como olhamos o desporto”, afirmou o antigo nadador norte-americano, que se tornou numa lenda quando conquistou sete medalhas de ouro olímpicas e bateu sete recordes mundiais durante os Jogos de Munique, em 1972.
No entanto, este feito foi ensombrado pelo ataque do grupo terrorista palestiniano Setembro Negro, que conseguiu penetrar na Aldeia Olímpica e fazer reféns 11 atletas israelitas, que acabaram mortos, depois de uma tentativa frustrada da polícia alemã de tentar resgatá-los.
O adiamento dos Jogos de Tóquio2020 colocou novamente o maior evento desportivo mundial no centro das atenções e fez Spitz, agora com 70 anos, recordar-se do momento mais traumático da sua vida.
“Infelizmente, um dia depois de ter terminado a minha competição, os israelitas, 11 deles, foram mortos por terroristas. Eu estava a algumas centenas de metros do local onde eles entraram. Quando acordei, dirigi-me para o local onde tinha uma conferência de imprensa para falar do meu feito e, quando lá cheguei, fui ‘bombardeado’ com perguntas sobre o sequestro, quando não fazia ideia do que tinha acontecido”, recordou o antigo nadador.
Spitz disse ainda que nos últimos 48 anos tem falado sobre o que sentiu durante aquele trágico incidente e que o ter contactado com as mulheres e familiares dos atletas que morreram, o fizeram compreender que os Jogos de Munique, entretanto suspensos devido ao ataque, deveriam ter continuado.
“Não ’em memória deles’, mas, mais importante, para dar a ideia de que aquilo que aconteceu foi menos importante e que o terrorismo não iria prevalecer”, frisou, enaltecendo o “grande trabalho” efetuado nos últimos 48 anos para que não voltasse a ocorrer um incidente tão trágico como o de 1972.
Falando sobre o novo coronavírus, que teve origem na China e que se alastrou pelo mundo inteiro, levando mesmo ao adiamento dos jogos de Tóquio2020 para 2021, Spitz, que se encontra em quarentena na sua casa em Los Angeles, diz que “originalmente disseram que as pessoas tinham de ficar em casa e que era uma questão de duas semanas”.
“Mas apercebi-me que tal não era realista, uma vez que ainda não há cura para esta pandemia. Felizmente para mim, não tenho familiares nem amigos afetados”, disse, elogiando os médicos e enfermeiros que estão na linha da frente arriscando as suas vidas.
Spitz alinha pelos que acham que o COI fez bem em adiar os Jogos de Tóquio: “Pelo menos afeta a maior parte das pessoas da mesma maneira e afeta todo o tipo de desportos de forma igual. No entanto, se alguém está no final da sua carreira, devido à sua idade, ou se não consegue manter-se na forma ideal e as condições de treino para o ano seguinte, pode tornar-se emocionalmente difícil”, sublinhou.
Além disso, o antigo nadador também se mostra preocupado com o futuro, uma vez que diz que “ninguém sabe realmente como estará o mundo em 2021 devido à pandemia”.
Após a declaração de pandemia, em 11 de março, as competições desportivas de quase todas as modalidades foram disputadas sem público, adiadas — Jogos Olímpicos Tóquio2020, Euro2020 e Copa América -, suspensas, nos casos dos campeonatos nacionais e provas internacionais, ou mesmo canceladas.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 297 mil mortos e infetou mais de 4,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios. O Reino Unido totaliza 33.186 mortos e cerca de 230 mil casos de infeção confirmados.
LUSA/HN
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