Imunidade de grupo no Chile só deverá ser atingida com quase 100% da população vacinada

6 de Julho 2021

A imunidade de grupo no Chile, prevista para ser atingida com 80% da população vacinada, só o deverá ser com quase 100%, devido à menor eficácia da vacina chinesa Coronavac, disse à Lusa fonte sanitária chilena.

“Muito provavelmente temos que chegar a uma vacinação próxima de 100% da população para atingirmos os 80% previstos de cobertura de proteção”, antecipa à Lusa o pediatra e infetologista Miguel O’Ryan, do Instituto Biomédico da Universidade do Chile e membro do Comité Assessor de Vacinas e Imunizações (CAVEI), do Ministério das Ciências e da Tecnologia do Chile.

O Chile ocupa o pódio das nações que mais rapidamente combatem o novo coronavírus, com os primeiros sinais de alívio no número de contágios e vítimas a consolidarem-se.

A maior parte do país saiu do confinamento, mas a imunidade coletiva, embora próxima de acontecer, deverá ter de contar com outra meta e ser adiada.

“É muito provável que uma vacina como a Coronavac, cuja eficácia contra a infeção global está entre 60 e 70%, requeira vacinar 100% da população para atingirmos a meta”, explica O’Ryan.

A meta oficial é atingir a imunidade coletiva com 80% da população vacinada, equivalentes a 15,2 milhões de chilenos. Porém, como 70% das doses aplicadas no Chile foram com o imunizante chinês do laboratório Sinovac, a linha de chegada tende a ser adiada para atingir a quase totalidade dos 19 milhões de chilenos.

Em 16 de abril, o Ministério da Saúde do Chile publicou um estudo realizado com 10,5 milhões de chilenos vacinados 14 dias depois da segunda dose da Coronavac. A efetividade da vacina foi de 67% (média entre a variação de 65% a 69%) para prevenir a Covid-19 sintomática. O número é bem inferior aos mais de 95% da Pfizer, a segunda vacina mais aplicada no país.

Atualmente, 83,6% dos chilenos já foram vacinados com uma dose e 71,5% com as duas doses, um número muito próximo da meta de 80% que pode ser revista.

“A vacinação no Chile usa principalmente Sinovac. A vacina é o que é. Está a mostrar uma efetividade ao redor de 67% contra infeção sintomática, de 85% contra infeção grave. Não tem 95% como a Pfizer, mas tem 67%”, ressalta O’Ryan.

“Era a vacina que estava disponível. Não tínhamos Pfizer para 15 milhões de chilenos, mas tínhamos uma chance com Sinovac. Esperamos agora que, com as outras vacinas, possamos cobrir toda a população para entrarmos em agosto e setembro com uma diminuição muito significativa de casos, como a que vemos no hemisfério norte”, projeta.

O Chile deve desenvolver ensaios clínicos com terceiras doses da Coronavac para avaliar o aumento da proteção.

“Para nós, a Coronavac tem um papel muito importante em ajudar num melhor controlo da pandemia. Se vai requerer ou não alguma dose de reforço com essa ou com outra vacina, isso também vai depender de estudos clínicos. Esperamos desenvolver ensaios clínicos com terceiras doses de vacina para avaliar a segurança e o efeito que eventualmente teria no aumento da resposta imune”, indica o assessor do Governo chileno.

Quanto à instalada figura da imunidade de grupo, Miguel O’Ryan aconselha abandonar essa ideia e aprender a administrar o vírus.

“Temos de retirar a famosa ideia de uma imunidade de grupo que vai conseguir controlar o vírus num curto prazo. A vacinação fará o seu trabalho ao manter o vírus num baixo nível de circulação aceitável para a população”, aponta.

Das 26 milhões de doses, mais de 18,5 milhões foram CoronaVac, 5,9 milhões Pfizer, 925 mil AstraZeneca e 575 mil CanSino.

A vacinação no Chile avança a passo firme e crescente desde dezembro, mas só na semana passada os números de contágios começaram a diminuir.

Nas últimas 24 horas, foram notificados 2.852 novos casos, longe dos 9.171 registados em 09 de abril passado.

No total, são 1,573 milhão de contágios, dos quais 33.249 faleceram, sendo 146 nas últimas 24 horas.

LUSA/HN

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