Ministro defende investigação a preços praticados por agências nos voos em Cabo Verde

30 de Julho 2021

O ministro dos Transportes de Cabo Verde defendeu esta sexta-feira que se investiguem as alegadas irregularidades na venda de bilhetes de voos domésticos acima das tarifas legais, perante as críticas públicas de utentes nas últimas semanas às agências de viagens.

“Não pode haver aumento de tarifas a nível nacional porque há um decreto”, afirmou o ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, no parlamento, na Praia, durante o anual debate sobre o estado da Nação, referindo-se à legislação que desde 2019 estabelece valores máximos e tarifas para os voos domésticos.

“Claro que as autoridades têm de verificar quem está a prevaricar, disso não há dúvida”, afirmou ainda o governante.

A Associação para Defesa do Consumidor (ADECO) de Cabo Verde considerou na quarta-feira como “complexas” as alegadas irregularidades na venda de bilhetes de voos domésticos acima das tarifas legais, prevendo que o caso chegue ao Ministério Público.

“Inicialmente, extrajudicialmente, poderá sim comunicar devidamente às autoridades”, começou por indicar Éder Brito, jurista e vice-presidente da ADECO, em reação à agência Lusa sobre a investigação que a Associação das Agências de Viagens e Turismo (AAVT) de Cabo Verde anunciou estar a fazer a alegadas irregularidades na venda de bilhetes de voos domésticos, acima das tarifas legais.

Tendo em conta essas denúncias de sobrefaturação nos bilhetes de passagens, o representante dos consumidores cabo-verdianos aconselhou os clientes que fizeram a compra a reclamar junto da associação para a defesa do consumidor, para esta dar o seguimento.

Mas também disse que os consumidores podem fazer uma participação diretamente junto da Agência de Aviação Civil e da própria AAVT, prevendo que mais tarde este caso chegue ao Ministério Público para se investigarem essas suspeitas.

Segundo Éder Brito, a associação teve denúncias de pessoas que, por exemplo, no percurso Praia/São Vicente/Praia, que deveria custar por volta de 19 mil escudos (172 euros), pagaram 26 mil escudos (235 euros), reclamando, por isso, ação da reguladora da aviação civil no país.

Para o responsável, estas situações acontecem em Cabo Verde muitas vezes por falta de informação do que é que seria o plano tarifário existente, o que levou o Governo a divulgar novamente a tabela das tarifas aéreas, fixada através de portaria desde 2019, como aliás justificou hoje o ministro Carlos Santos, no parlamento.

Também esta semana, em declarações à Lusa, o presidente da AAVT assumiu que esta situação, com dezenas de queixas públicas nos últimos dias, levou a própria BestFly a comunicar à associação “uma possível irregularidade nas vendas dos bilhetes” por parte das agências.

“A confirmar-se essa informação, é algo que lamentamos profundamente e, do nosso lado, tudo faremos para que seja reposta a ordem. Todavia, é preciso fazer-se uma averiguação dos factos, antes de qualquer posição ou declaração, para além desta”, afirmou Mário Sanches.

As ligações aéreas interilhas de passageiros em Cabo Verde são asseguradas por um único operador, desde 17 de maio pela BestFly, através de um contrato de concessão emergencial atribuído pelo Governo por seis meses.

Nas tarifas aéreas domésticas fixadas pelo Governo, o valor de referência mais baixo é o do percurso Praia/Maio, 3.000 escudos (27 euros) apenas ida, e o mais caro, Praia/São Vicente, em 9.000 escudos (81 euros).

A venda de bilhetes é feita atualmente apenas através das agências de viagens do arquipélago, que inclusivamente, em alguns casos, não discriminam os valores das taxas e tarifas aplicadas no bilhete final, e têm surgido dezenas de reclamações públicas nas últimas semanas.

Nas declarações à Lusa, o jurista da ADECO reconheceu que as agências de viagens têm direito a uma comissão pela venda dos bilhetes de passagem, mas defendeu que já é momento de a operadora começar a disponibilizar a venda no seu site oficial, para dar mais opções ao cliente.

“Hoje em dia as agências têm um trabalho de facilitar a marcação das rotas a clientes que não conseguem fazer online, mas os clientes/consumidores deveriam – aquele que consegue fazer as suas marcações online e não precisa de recorrer à agência – ter a possibilidade de fazer a sua compra online”, terminou Éder Brito.

LUSA/HN

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