“A casuística [número de casos] é de facto um fator relevante em termos de saúde, mas neste caso em concreto a avaliação que foi feita pelo Governo Regional e pela entidade que vai prestar esse serviço é de que temos condições para prestá-lo com qualidade e garantias de segurança”, adiantou o titular da pasta da Saúde nos Açores, Clélio Meneses.
O governante falava, em declarações aos jornalistas, à margem de uma visita ao espaço onde será instalada a unidade de radioterapia, no Hospital de Santa Espírito da Ilha Terceira, em Angra do Heroísmo.
O termo “casuística” é utilizado para definir o número mínimo necessário de casos para assegurar condições de segurança de um serviço de saúde prestado.
Inaugurado em 2012, o hospital foi construído com um ‘bunker’, orçado em cerca de 1,5 milhões de euros, destinado à instalação de um serviço de radioterapia, mas o único centro de radioterapia dos Açores acabou por ser criado, em 2016, na ilha de São Miguel, a mais populosa dos Açores.
Na altura, o executivo açoriano (PS) anunciou uma segunda unidade de radioterapia para a ilha Terceira.
O espaço existente no hospital foi equipado, em 2016, num investimento conjunto do Governo Regional dos Açores e da empresa Joaquim Chaves Oncologia, com recurso a fundos comunitários, mas a unidade nunca chegou a funcionar.
Em 2018, o Governo Regional (PS) justificou o atraso do projeto com a falta de casuística para os tratamentos e com a falta de radio-oncologistas.
O atual secretário regional da Saúde, da coligação PSD/CDS/PPM, garante que há agora “vontade e determinação política” do executivo e “compromisso da Joaquim Chaves Oncologia” para que a unidade avance este ano.
“Já temos pessoal contratado, os equipamentos estão instalados, estamos em condições para efetivamente no dia 06 de setembro iniciar este serviço”, frisou Clélio Meneses.
Guy Vieira, diretor da Joaquim Chaves Oncologia, que gere também o centro de radioterapia existente em São Miguel, admitiu que “a casuística continua exatamente igual” e “não deixou de ser um problema”, mas garantiu que estava assegurada a qualidade do serviço.
“Seria mais fácil ter duas máquinas no mesmo lugar a tratar os doentes, porque haveria muito mais sinergia. Contudo, sendo uma vontade de podermos estar na proximidade do doente, decidiu-se continuar a segunda fase deste projeto e abrir a unidade da Terceira”, apontou.
“A qualidade que este serviço vai ter é exatamente igual a qualquer das nossas outras unidades”, acrescentou.
Questionado sobre o que levou a Joaquim Chaves a investir, há cinco anos, no equipamento, sem garantias de casuística para avançar com a unidade, Guy Vieira disse que a empresa considerou que numa primeira fase “seria útil centrar os doentes em São Miguel”.
“Quando se abre uma unidade de radioterapia obviamente depois começa a haver muito mais procura, já existe na região, já não há necessidade de sair da região, e obviamente que também sabemos que havia alguns doentes que na necessidade da deslocação preferiam ir para o continente do que para São Miguel”, apontou.
Segundo Guy Vieira, algumas técnicas mais específicas, como “braquiterapia de alta taxa” ou “radiocirurgia” poderão obrigar a uma deslocação de doentes para a ilha de São Miguel ou para a ilha da Madeira, mas os tratamentos de radioterapia externa poderão ser feitos na unidade da Terceira, que deverá receber utentes de sete ilhas dos Açores.
O equipamento instalado em 2016 está ainda em “fase de testes”, no entanto, a paragem de cinco anos não terá provocado danos.
“São máquinas altamente sensíveis à temperatura, à humidade, às variações de energia. Era uma preocupação nossa testar e ter a certeza absoluta de que a máquina estaria em condições”, revelou o diretor da empresa.
A unidade de radioterapia da ilha Terceira contará com 15 funcionários, incluindo uma médica radio-oncologista contratada pelo hospital.
LUSA/HN
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