UNICEF antevê que metade das crianças afegãs sofrerão de desnutrição severa este ano

17 de Agosto 2021

Uma em cada duas crianças no Afeganistão sofrerá de desnutrição severa este ano, anteviu esta terça-feira a UNICEF, que iniciou, entretanto, contactos com representantes talibãs em diferentes regiões do país para definir o futuro da sua atividade no terreno.

Este cenário foi traçado pelo diretor de operações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Afeganistão, Mustafa Ben Messaoud, durante uma conversa, via Internet, com a imprensa internacional.

A partir da capital afegã, Cabul, o representante da UNICEF indicou que, atualmente, 20 milhões de afegãos, mais de metade da população do país, precisam de ajuda humanitária, sendo que metade destas pessoas são menores de idade.

Mustafa Ben Messaoud afirmou que a UNICEF, agência do sistema das Nações Unidas, tem mantido contactos em diferentes províncias afegãs com os responsáveis designados pelos líderes talibãs para a área da saúde e para as relações com as organizações não-governamentais (ONG) e de assistência humanitária que trabalham em solo afegão, mas, segundo frisou, as posições que expressam não são homogéneas no que diz respeito à situação das mulheres e das raparigas.

Após uma ofensiva relâmpago, os talibãs tomaram Cabul no domingo, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão, 20 anos depois de terem sido expulsos pelas forças militares estrangeiras (Estados Unidos da América e NATO).

Depois de terem governado o país de 1996 a 2001, impondo uma interpretação radical da ‘sharia’ (lei islâmica), teme-se agora que os radicais voltem a impor um regime de terror, nomeadamente ao nível dos diretos fundamentais das mulheres e das raparigas.

A propósito deste aspeto, o diretor de operações da UNICEF no Afeganistão relatou que durante a primeira reunião realizada com o diretor de saúde talibã de Herat (oeste), a terceira maior cidade afegã, foi dado a entender que as mulheres que trabalham no setor da saúde poderão continuar a exercer as suas funções.

No entanto, segundo destacou o representante, o discurso dos responsáveis que estão a ser designados pela liderança talibã a nível nacional diferem sobre esta matéria.

Enquanto alguns estão dispostos a que as mulheres e as raparigas tenham acesso à educação, outros respondem que estão à espera de indicações por parte dos seus superiores, de acordo com Mustafa Ben Messaoud.

A UNICEF conta com 13 escritórios no Afeganistão, dos quais 11 estão em pleno funcionamento, disse o diretor de operações.

A agência das Nações Unidas está presente no território afegão há 65 anos.

“Estamos a ter interações quase diárias com as autoridades recém-nomeadas e esperamos ter uma linha de comunicação com os líderes em Cabul e continuar a trabalhar como temos vindo a fazer, até agora, no terreno”, indicou.

Em dezembro passado, a UNICEF e os talibãs assinaram um acordo para abrir escolas comunitárias para crianças (raparigas e rapazes) em zonas remotas do país, que já eram então controladas pelos radicais islâmicos.

A agência afirma estar confiante de que este acordo será respeitado, admitindo, porém, que tal só será confirmado nos próximos dias ou semanas.

Os funcionários das Nações Unidas que se encontravam no território afegão no momento em que os talibãs assumiram novamente o poder mantêm-se no país.

Segundo dados fornecidos pelas Nações Unidas em Genebra, a organização conta com mais de 700 colaboradores internacionais designados para este país, embora apenas 300 estejam presencialmente no território afegão.

Devido à pandemia da doença Covid-19, os restantes estavam em regime de teletrabalho.

A par dos colaboradores internacionais, 3.000 afegãos compõem a equipa nacional da organização internacional.

LUSA/HN

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