Psicólogos defendem mensagens diferenciadas e apoio psicológico nos centros de saúde

19 de Maio 2020

O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses defendeu hoje que o sucesso do desconfinamento depende de mensagens diferenciadas para os distintos grupos que compõem a sociedade e de apoio psicológico […]

O bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses defendeu hoje que o sucesso do desconfinamento depende de mensagens diferenciadas para os distintos grupos que compõem a sociedade e de apoio psicológico nos centros de saúde.

“Temos alertado que os desafios desta fase seriam bem mais complexos, não só em relação aos impactos psicológicos do confinamento, mas também da crise que se seguiria”, disse Francisco Miranda Rodrigues à agência Lusa.

Para o psicólogo, a primeira mensagem das autoridades (Fique em Casa) era mais fácil porque era igual para todos. Segue-se um período em que as mensagens “têm de ser adaptadas” de fase para fase e tendo em conta a perceção de risco dos diferentes grupos. “É muito mais complexo, do ponto de vista da comunicação, do que uma mensagem única”, afirmou.

Manifestou, no entanto, dúvidas de que a solução seja investir em campanhas de informação, preferindo apostar no estudo da perceção de risco de grupos distintos para aí basear a comunicação e considerou essencial manter a atividade de coletivos, associações e instituições que trabalham com públicos diferenciados no combate à pandemia de Covid-19.

“Não havia um estudo prévio feito e nós temos uma avaliação do risco que é diferente e o medo também é diferente de pessoa para pessoa”, acrescentou.

Francisco Miranda Rodrigues exemplificou com um estudo que foi feito junto de estudantes do ensino secundário, divulgado na segunda-feira. “Dando como adquirido que um número muito elevado sente medo, a comunicação tem de ser ajustada a esse nível de risco. Se estão mais avessos a poder sair, as mensagens têm de ser ajustadas”, disse.

Admitiu ser difícil encontrar um equilíbrio: “Haverá pessoas que vão ficar paralisadas, porque têm mais medo e protegem-se mais. Podem demorar mais tempo a voltar à vida em sociedade, enquanto outros assumem que, se é para voltar à rua, então é para sair”.

A questão, sublinhou, não é só comunicar mais, mas comunicar de forma diferenciada. “Até podemos ter de acentuar os cuidados para que a perceção de risco não desapareça”, estimou.

Os estudos são “muito importantes”, assim como o envolvimento da sociedade civil, indicou: “É importante que o envolvimento não afrouxe”.

“O que as autoridades de saúde têm de fazer é ajustar mensagens em função da situação e isso pode significar que a mensagem hoje é uma e amanhã é outra. Isso não é contraditório, é o correto. É bom que nos habituemos a isto”, referiu o responsável pela Ordem dos Psicólogos.

Francisco Miranda Rodrigues observou que “as circunstâncias estão a mudar com rapidez”, logo as mensagens “têm de mudar” ao mesmo ritmo.

Segundo o psicólogo, a nova fase de desconfinamento tem outro nível de dificuldade e o comportamento individual continua a ser essencial no controlo da pandemia de Covid-19.

Há que estar alerta, advertiu, para o grande número de pessoas que agora enfrentam dificuldades e estarão com menor capacidade de discernimento para adotar os comportamentos adequados.

“As pessoas podem não estar em condições de fazer essa adaptação da melhor forma possível e tem de haver soluções em termos de apoio. Quando estamos pior, pensamos pior e se nos faltam bens essenciais, é natural que a adaptação seja mais difícil”, declarou.

Dotar os centros de saúde de psicólogos para prestar apoio à população é uma das medidas defendidas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Francisco Rodrigues considerou também importante que as regras para o regresso à normalidade possível “não passem para um nível de exigência tal que não será cumprido”.

Os dados da Direção-Geral da Saúde contabiliza 1.231 mortos associados à Covid-19 em 29.209 casos confirmados de infeção.

Em 03 de maio, o país entrou em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência, desde 19 de março.

Esta nova fase prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

O Governo aprovou na sexta-feira novas medidas, entre as quais a retoma das visitas aos utentes dos lares de idosos, a reabertura das creches, aulas presenciais para os 11.º e 12.º anos e a reabertura de algumas lojas de rua, cafés, restaurantes, museus, monumentos e palácios.

O regresso das cerimónias religiosas comunitárias está previsto para 30 de maio e a abertura das praias para 06 de junho.

LUSA/ HN

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