Voluntários tiveram de entrar para a ‘linha da frente’ nos lares

10 de Maio 2020

A pandemia de covid-19 alterou as rotinas dos lares, não só devido aos casos positivos entre os idosos, mas também porque afastou funcionários de funções e tiveram de ser voluntários a entrar para a ‘linha da frente’.

Mara Carneiro tem 23 anos e, como voluntária, ajudou a cuidar dos utentes infetados com o novo coronavírus no Lar Nossa Senhora da Veiga, em Foz Côa (Guarda).

Esta estudante de Educação Social de Paços de Ferreira esteve 15 dias seguidos a cuidar dos idosos e a colaborar na higienização dos espaços comuns da instituição.

“Vivíamos o tempo que passámos no lar a cuidar dos idosos e nem nos lembrávamos que estávamos a lidar com pessoas infetadas pela covid-19, apesar de se tratar de uma doença altamente contagiosa”, salientou a voluntária.

Já Ana Rita Carvalho, de 22 anos, foi de Vila Nova de Gaia para Foz Côa e trabalhou com espírito de missão para ajudar a cuidar de “quem mais precisava” em tempo de pandemia.

“Não hesitei em ajudar a cuidar dos idosos deste lar, porque sabíamos que o maior risco associado à covid-19 estava neste tipo de equipamento social. Não ficámos de braços cruzados e decidimos ajudar quem mais precisava de cuidados em tempo de pandemia, tanto os infetados como os não infetados”, relatou.

Pelo lar de Foz Côa passaram 44 voluntários de todo o país e, neste momento, ainda estão 11 na instituição.

Para o provedor da Misericórdia de Foz Côa, António Morgado, se não fossem estes voluntários, a instituição teria de recorrer à proteção civil distrital ou local, já que não havia capacidade para cuidar dos idosos.

“Todos os voluntários demonstram uma dedicação extrema e solidária no tratamento dos idosos. Só temos de elogiar todo o comportamento e o espírito de entrega destes jovens voluntários”, concretizou o responsável.

Tânia Fernandes, aluna do terceiro ano da licenciatura em enfermagem na Universidade do Minho é voluntária num lar de idosos de Arcos de Valdevez, onde o surto do novo coronavírus registou vários casos de infeção e causou a morte, segundo os últimos dados, a seis utentes.

Com a experiência adquirida noutras ações de voluntariado, a estudante não hesitou quando, em abril, a Câmara daquele concelho do distrito de Viana do Castelo abriu inscrições ‘online’ para o Banco Local de Voluntariado.

Aos 21 anos, o desejo de ajudar foi mais forte do que “o receio de ficar infetada ou de levar o vírus para o seio familiar”.

“Se esta pandemia ocorresse dentro de uns anos, eu já estaria na linha da frente enquanto enfermeira. Neste caso, embora ainda não esteja a desempenhar essas funções, estou exposta a um risco com o qual vou lidar diariamente no futuro”, referiu.

Para Tânia Fernandes, as 12 horas de voluntariado no lar, uma das opções que escolheu quando se inscreveu na bolsa de voluntariado, a par do apoio a crianças com necessidades especiais, vão ser “muito importantes no futuro”.

“Neste momento, estou a viver a história e a oportunidade de ter uma visão diferente de quando somos meros estudantes. Estar do outro lado e ver os profissionais de saúde em ação e aprender com eles é algo impagável e uma experiência muito enriquecedora”, apontou.

O presidente da Câmara de Arcos de Valdevez explicou que a colocação dos voluntários é feita em articulação entre a autarquia e as instituições particulares de solidariedade social que necessitam de recursos humanos.

Contudo, nem sempre o recurso ao voluntariado é possível, como aconteceu na Misericórdia de Alverca, onde em abril foram registados mais de 60 casos positivos de covid-19, entre os quais 18 funcionários.

Segundo contou à Lusa o presidente da Misericórdia de Alverca, João Gaspar Simões, a instituição do concelho de Vila Franca de Xira, no distrito de Lisboa, tentou junto de algumas plataformas de voluntários encontrar pessoas que pudessem ajudar nesta fase.

Mas, acabaram por verificar que para acionar essa solução seria necessário preencher determinadas condições que “a instituição, que estava num caos”, naquele momento não conseguia assegurar, como alojamento para os voluntários.

“Depende da articulação entre entidades públicas para dar casa a essas pessoas durante um determinado período de tempo, com determinadas condições e isso não é fácil”, afirmou João Gaspar Simões.

Por isso, a solução para a Misericórdia de Alverca encontrar recursos humanos passou por uma parceria com a Segurança Social, que ativou um protocolo que tinha sido feito com a Cruz Vermelha.

“Os recursos humanos que temos hoje são recursos humanos enviado pela Cruz Vermelha através da Segurança Social, mas são pessoas que estão a ser pagas”, disse o responsável, salientando que o facto de serem remuneradas em nada retira o “espírito de missão” que demonstram.

Assim, voluntários no sentido ‘estrito’ do termo, neste momento a Misericórdia de Alverca tem apenas uma pessoa, “que já trabalhou há muitos anos” na instituição e que se ofereceu para ajudar neste período mais difícil.

LUSA/HN

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