Há falta de mulheres e minorias étnicas para estudos clínicos e pesquisa sobre nova medicação cardiometabólica

29 de Maio 2020

Através da sua iniciativa, Go Red For Women®, a Associação Americana para o Coração tem vindo a defender uma melhor representação da população feminina em estudos do foro cardiovascular há cerca de duas décadas

Mulheres e minorias, sobretudo afro-americanas, continuam a ser inadequadamente representadas em estudos clínicos para nova medicação cardiometabólica. Uma tendência que se tem mantido anelterada ao longo da última década, de acordo com a nova pesquisa publicada na semana passada pelo Jornal of the American Hearth Association.

As doenças cardiovasculares e cardiometabolicas (a combinação dos setores cardiovascular e metabólicos) são a principal causa de morte em todo o mundo e, no caso das mulheres com diabetes de tipo 2, estas estes números são quatro vezes piores. O que torna a falta de mulheres de diversidade racial uma preocupação para os cientistas que tentam avaliar a eficácia de medicação para doenças deste tipo, apesar de em 1993, a FDA (entidade reguladora da alimentação, drogas e medicamentos nos Estados Unidos), ter estabelecido certos parâmetros que procuravam atrair diversidade nos participantes em estudos clínicos.

Ao todo, os investigadores recolheram dados relativos à participação de mais de 300.000 pacientes em estudos clínicos com uma média aproximada de 6.000 pessoas por estudo, ao longo de 10 anos para poderem observar as tendências nos números referentes a mulheres pertencentes a minorias étnicas e raciais. Durante o período em estudo foram aprovados 35 novos medicamentos (24 cardiovasculares e 11 para o diabetes entre 2008 e 2017).

“Caraterísticas demográficas, tais como a raça e o género, podem ter efeitos contratantes na resposta ao medicamento, que podem invariavelmente causar variações nos resultados do tratamento e taxa de sobrevivência”, disse o Dr. Muhammad Shahzeb Khan, médico residente no Hospital John H. Stronger, Jr em Chicago. “É importante que os indivíduos que participem nos estudos sejam representativos dos pacientes que vão receber o medicamento quando aprovado”.

“Infelizmente percebemos que a inscrição de mulheres de minorias raciais mantém-se desproporcionalmente baixa”, adicionou o Dr. Kahn. “Estas disparidades de género, raça e etnia dos participantes em grandes estudos clínicos pode ter implicações significativas em determinar os efeitos destas terapias nestes grupos, e pode impedir que se retirem conclusões de o medicamento ser disponibilizado à prática médica generalizada”.

A análise aos dados mostrou que a proporção de mulheres e minorias em estudos clínicos da FDA se manteve baixa entre 2008 e 20017:

  • As mulheres representam apenas 36% dos participantes;
  • Apenas 4% dos participantes eram negros ou afro-americanos;
  • Só 12% dos participantes eram asiáticos;
  • E só 11% eram hispânicos ou latinos.

Além do mais, mas mulheres estavam sub-representadas em pesquisas médicas para a doença coronária, paragem cardíaca e síndrome coronário agudo face à proporção de mulheres que sofre dessas doenças. Os resultados deste estudo reforçam a necessidade de representação para todos os subgrupos demográficos, para que sejam asseguradas todas as variações nos resultados. Esta informação é vital para o que os tratamentos sejam aprimorados.

“Enquanto examinamos a representação de mulheres e minorias especificamente para medicamentos cardiometabólicos, os mesmos princípios podem ser aplicados nos 19 estudos em andamentos de terapias para o COVID-19. Precisamos de saber que medicamentos são seguros e funcionam em todos os grupos demográficos”, explicou Kahn.

“Por isso mesmo, todas as modalidades de tratamento atualmente a serem investigadas para o novo coronavírus devem ser investigadas de forma igual por todos os subgrupos demográficos, para que todas as diferenças em termos de segurança e eficácia possam ser registadas para o futuro. A inclusão de participantes diversos é essencial para uma compreensão holística de diferenças raciais e de género na resposta ao tratamento”.

Através da sua iniciativa, Go Red For Women®, a Associação Americana para o Coração tem vindo a defender uma melhor representação da população feminina em estudos do foro cardiovascular há cerca de duas décadas. A iniciativa estabeleceu uma comunidade de mulheres, cientistas e profissionais de saúde, para espalhar a necessidade de fechar as lacunas investigativas que dizem respeito ao género.

À luz da pandemia do COVID-19, a Research Go Red (um projeto da Go Red For Women®) foi capaz de expandir o seu alcance e impacto através de um questionário lançado em maio. Este questionário avalia as principais preocupações das mulheres em relação ao impacto do vírus na saúde e nos aspetos social, económico e emocional nas suas vidas.

Os co-autores do estudo são Izza Shahid, M.B.B.S.; Tariq Siddiqi, M.B.B.S.; Safi U. Khan, M.D.; Dr. Haider Warraich; Dr. Stephen Greene; Dr. Javed Butler, M.P.H., M.B.A.; e a Dra. Erin Michos, M.H.S.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

 

 

 

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