Em entrevista ao portal de notícias G1, a líder indígena detalhou números bastante superiores aos apontados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), tutelada pelo Ministério da Saúde, que indicou 51 mortos e 1.312 casos confirmados de Covid-19 entre os povos originários até sábado.
“A Sesai faz uma seleção de quem eles acham que é indígena e quem não é. Então, eles não registam indígenas que estão em contexto urbano. A própria estrutura da Sesai, sem atendimento próximo a algumas aldeias, faz os indígenas irem para os municípios. Lá, eles entram na contagem normal do município, sem serem considerados indígenas com Covid-19”, explicou Guajajara.
Na avaliação da coordenadora da APIB, organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos, trata-se da “negação de querer mostrar a situação real”.
Na maioria, a população indígena brasileira está distribuída por milhares de aldeias, sendo que grande parte das infeções pelo novo coronavírus foi registada na floresta Amazónia, onde está localizada a generalidade das tribos isoladas.
De acordo com Guajajara, o povo Kokama, no Amazonas, é o mais afetado, com 54 mortes pela Covid-19 registadas até hoje.
“É um retrato real do que esse vírus pode representar para os povos indígenas: o extermínio total de povos. Entrando no território é muito fácil a propagação, porque a estrutura das casas ajuda, todos moram e dormem juntos. Isso facilita muito a propagação do vírus. O povo Kokama mostra quanto esse vírus é letal dentro da comunidade”, afirmou a líder indígena ao G1.
Face ao aumento de casos, vários povos indígenas estão a implementar barreiras de proteção, para impedir a entrada de invasores nos seus territórios.
A progressão do novo coronavírus no Brasil favoreceu invasões a terras indígenas por parte de madeireiros e extratores ilegais de minérios, referiu no mês passado a organização não-governamental Survival International.
A ONG denunciou invasões em quatro localidades de quatro estados da Amazónia brasileira, incluindo o Amazonas, perto da fronteira com o Peru, onde há uma grande concentração de populações indígenas isoladas.
Uma das preocupações das autoridades é a vulnerabilidade das populações indígenas face a doenças respiratórias, o que aumenta o risco de agravamento em caso de contágio pelo novo coronavírus.
Até domingo, o Brasil totalizou 29.314 óbitos e 514.849 casos confirmados de Covid-19 desde a chegada da pandemia ao país, segundo o executivo.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 372 mil mortos e infetou mais de 6,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
LUSA/HN
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