Plano de contingência da Diaverum cumpre por excesso todas as recomendações da DGS

06/03/2020
Entrevista a Fernando Macário, Chief Medical Officer da Diaverum Global

Para reduzir ao máximo a transmissão de infeções respiratórias, uma Unidade de diálise, quer pelas características clínicas dos doentes quer pelo facto de partilharem um espaço fechado durante várias horas por dia, deve possuir um plano de contingência elaborado de acordo com as melhores práticas, cujas normas devem ser cumpridas de forma rigorosa. Elaborar este plano logo no início da pandemia, ainda em janeiro, meses antes de serem anunciados os primeiros casos (2 de março) consubstancia, decididamente, um espírito de cautela muito apurado. Ora, foi isso mesmo o que aconteceu na Diaverum, o maior prestador de cuidados de diálise em Portugal. Por cá, aquela que é um dos maiores prestadores de cuidados de diálise a nível global, possui 26 clínicas especializadas, onde são tratados, em média, todos os anos, cerca de 3400 doentes. Para saber um pouco mais sobre este plano inovador, fomos falar com Fernando Macário, Chief Medical Officer da Diaverum Global.

 Um plano de contingência focado em doentes submetidos a diálise constitui um exercício complexo. Porque decidiram avançar com um Plano próprio?
Começámos a analisar o risco desta nova doença infeciosa nos doentes em diálise em janeiro deste ano. Nessa altura não havia recomendações específicas sobre como lidar com a COVID-19 na população de doentes em diálise. Por esse motivo decidimos investir na criação de todas as medidas tendentes a diminuir o risco de transmissão entre os doentes e o pessoal das clínicas e garantir a continuidade e qualidade dos cuidados, em termos clínicos e operacionais

O Plano Diaverum foi homologado pela Direção Geral da Saúde?
 O nosso plano teve origem a nível central na estrutura de gestão internacional da Diaverum e não em Portugal. Surgiu muito antes das autoridades dos diferentes países terem orientações específicas nesta área. Este plano foi adotado, com as necessárias adaptações para cumprir normas locais, nos 22 países onde operamos as nossas 404 clínicas. Foi apresentado e disponibilizado à Sra. Presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento de Diálise (organismo da DGS) no início de Março quando ainda não havia orientações nacionais específicas para os doentes em diálise. Colaborámos com a DGS para a elaboração dos planos de contingência daquela instituição e o plano de contingência da Diaverum cumpre por excesso todas as excelentes recomendações da DGS. A Diaverum colaborou ativamente com as autoridades de saúde em todos os países em que está presente.

Quais as principais áreas de intervenção que cobre?
 Este plano cobre exaustivamente todas as áreas de risco de transmissão de COVID-19, garante a continuidade e qualidade dos tratamentos e a disponibilização dos equipamentos de proteção aos seus profissionais. Tem medidas especiais de triagem, modificação de espaços e circuitos para prevenir risco de contágio, modificações na forma como os doentes são transportados, nos países em que essa responsabilidade é nossa, programas especiais de educação do doente e do pessoal, medidas adicionais de limpeza e desinfeção, etc.

A aplicação do plano não afeta a quantidade de serviços prestados (i.e. distância obrigatória entre postos de diálise?)
Um dos nossos grandes objetivos foi manter a qualidade dos tratamentos. Na maioria das situações não houve necessidade de alterações físicas importantes dadas as boas condições das clínicas, em algumas clínicas aumentámos as áreas de espera, p.ex. com a colocação de tendas para triagem.

Quais os principais parâmetros de avaliação a que são submetidos os doentes atendidos nas clínicas Diaverum?
 Avaliação exaustiva do contexto epidemiológico e de todos os sinais clínicos precoces de risco de infeção por COVID, existe uma lista exaustiva de parâmetros com check-list detalhada que os nossos profissionais de saúde seguem.

O que acontece se os doentes apresentarem sinais ou sintomas sugestivos de infeção por COVID 19?
São contactadas as autoridades de saúde e o encaminhamento do doente é efetuado por decisão conjunta. Habitualmente, numa primeira fase, são enviados para o hospital responsável. Quando indicado pela instituição hospitalar os doentes podem ser dialisados em clínicas com condições específicas para dialisar doentes COVID.

Foi necessário ajustar o plano de contingência em função da região? É o mesmo em Espanha e em Portugal, ou há diferenças?
O plano de contingência tem algumas adaptações específicas para refletirem o contexto organizacional e legislativo de cada país.

Quais as principais medidas ao nível da gestão de pessoal?
Numa atuação conjunta das áreas médicas, de recursos humanos e de operações foi delineado um plano para garantir a continuidade dos ratios adequados de pessoal clínico. O pessoal de outras áreas de intervenção, quando possível, trabalhou a partir de casa. É com satisfação que podemos afirmar que conseguimos cobrir todas as necessidades e manter a qualidade dos cuidados.

O pessoal também é “testado”. Que parâmetros são avaliados? têm um team de supervisão das respostas clínicas. Quem integra este team?

Sim, o pessoal é testado. Temos uma política de testes muito alargada sempre que identificamos situações de risco o que nos permite detetar precocemente os casos, mesmo os assintomáticos e adotar medidas de quarentena ou outras quando necessário. Estas situações são avaliadas centralmente pela direção médica nacional e pelos coordenadores médicos e de enfermagem regionais.

 

MMM

1 Comment

  1. Jorge Sabino

    Os doentes fazem diálise com a roupa que trazem da rua ou vestem batas descartáveis?

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