Entre 3 de maio e 13 de junho de 2020, as primeiras seis semanas do desconfinamento, morreram em Portugal 11 124 pessoas, mais 807 (+8%) do que os 10 317 óbitos que seriam de esperar nesse período, tomando em consideração a mortalidade nos últimos seis anos, de acordo com as conclusões do Barómetro Covid-19, do Centro de Investigação em Saúde Pública da ENSP.
Só na última semana “é que os óbitos desceram para o valor que seria de esperar para esta época do ano”, esclarecem os investigadores.
Desta mortalidade extra de 807 pessoas, 41% não estão relacionadas com a Covid-19, naquilo a que os especialistas denominam de mortes “colaterais” à pandemia durante o desconfinamento.
Segundo o estudo, “a hipótese de que um grande número destes óbitos possa ter sido causado pela Covid-19, mas não terem sido classificados como tal, é pouco provável”. Em Portugal, e durante este período, “vigorou uma política de testagem muito ampla, incluindo testes a pessoas que morreram em casa e a aceitação de um diagnóstico clínico de Covid-19 relativamente abrangente, mesmo sem confirmação laboratorial”.
A eventualidade de que este aumento de mortalidade possa estar associado a casos de doença aguda grave que não procuraram os serviços de saúde atempadamente, ou que não foram adequadamente atendidos, “também parece pouco provável porque, nessa altura, já os serviços de urgência, incluindo as unidades de cuidados intensivos, estavam bem abaixo do nível de saturação e já se verificavam alguns sinais de retoma da atividade assistencial (consultas, exames, cirurgias, etc..)”.
Uma explicação possível avançada pelos investigadores é que este aumento de mortalidade “esteja associado a casos de doença crónica grave cujo diagnóstico e tratamento possam ter sido adiados devido à pandemia de Covid-19, porque os doentes evitaram procurar os serviços, ou porque as listas de espera adiaram os diagnósticos e tratamentos para além do prazo em que poderiam ter sido efetivos”.
Estas duas últimas são hipóteses são as mais fortes levantadas pelos quatro investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública que assinam o estudo.
O trabalho conclui, no entanto, que os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde sobre as causas de morte não permitem fazer análises mais detalhadas.
NR/HN/Adelaide oliveira
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