Pandemia ameaça combate contra a tuberculose em Moçambique

21 de Julho 2020

As autoridades de saúde moçambicanas esperam diagnosticar 103 mil casos de tuberculose este ano, contra os 97 mil em 2019, mas o novo coronavírus “põe em risco” a meta estabelecida, o que pode comprometer o combate à doença.

 “Em função dos números dos anos anteriores, a expectativa era aumentar o número de casos diagnosticados em 2020, mas se continuarmos com a tendência atual não vamos atingir a meta estabelecida”, disse o diretor do Programa de Controlo da Tuberculose no Ministério da Saúde, Ivan Manhiça, em entrevista à Lusa.

No segundo trimestre deste ano, altura em que se decretou o estado de emergência em Moçambique devido à Covid-19, foram diagnosticados um total de 24 mil casos de tuberculose, contra os 27 mil em igual período de 2019.

“As pessoas não estão a ir ao hospital com a frequência que deveriam, e os serviços comunitários também ainda não estão a operar de forma normal, estão em fase de adaptação para o `novo normal´ ”, referiu Ivan Manhiça, sublinhando que isso pode comprometer o combate a tuberculose no país.

Para fazer face à doença, o Governo moçambicano tem priorizado ações de sensibilização e capacitação de recursos humanos em zonas em que a doença é mais frequente.

Mas com a Covid-19, as campanhas de sensibilização sobre a tuberculose foram interrompidas e o número de pacientes que se deslocam às unidades sanitárias reduziu.

“Interrompemos porque havia necessidade de evitar que os colegas que fazem atividades comunitárias circulem de casa em casa, de doente em doente, aumentando o risco de uma eventual transmissão da Covid-19 para pacientes infetados com tuberculose”, explicou o diretor.

O responsável avançou ainda que a pandemia obrigou a mudança da forma de tratamento e acompanhamento dos pacientes, que passaram a fazer a medicação em casa para diminuir o seu contacto com o hospital por se tratar de um grupo de risco.

“O normal é que o paciente diagnosticado com tuberculose tome os medicamentos de forma assistida”, referiu Ivan Manhiça, acrescentando que para reduzir a exposição à Covid-19 o setor passou a fazer “dispensas mensais” dos medicamentos.

“Eles [os doentes ] vêm a unidade sanitária quando tem de fazer o controlo laboratorial, mas a medicação está a ser feita em casa e não têm que vir com intervalos muito curtos [ao hospital]”, acrescentou.

No total, de acordo com os dados preliminares, o país diagnosticou, no primeiro semestre deste ano, 47 mil casos de tuberculose, dos quais 6.000 são crianças.

Moçambique regista 1.507 casos positivos de covid-19, 11 óbitos e 505 recuperados, segundo as autoridades de saúde.

LUSA/HN

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