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Nacionalismo de vacinas não é a solução
Vários centros de investigação por todo o mundo iniciaram uma corrida contra o tempo. Procuram o desenvolvimento de uma vacina credível contra o Sars-Cov-2, que seguindo as recomendações do órgão regulador americano, produza uma proteção efetiva de pelo menos 50%. Ao dia de hoje, existem 27 vacinas já na fase de ensaios com seres humanos, 3 das quais já na fase III de testes, que implica a inoculação de amostras com milhares de indivíduos e avaliar a sua eficácia.
Uma vacina segura e eficaz, dará um contributo essencial ao controlo da pandemia, assim como, irá garantir de forma decisiva o início da recuperação das economias, fortemente atingidas por uma recessão sem precedentes.
Infelizmente perdeu-se uma boa oportunidade de cooperação pelo bem comum. Pelo contrário, foi criada uma situação de competição pela posse de um maior número possível de eventuais vacinas. O que deveria ser um bem público global e acessível a todos, transformou-se numa arma política com milhares de milhões de euros já investidos.
A OMS já alertou para o perigo deste nacionalismo de vacinas. Pode ocorrer uma situação idêntica à gripe pandémica de 2009, em que países com mais recursos compraram praticamente todas as vacinas disponíveis. Sendo a pandemia um problema global, a solução tem que igualmente ser global. As especificidades dos coronavírus, em que há incerteza sobre se a imunidade é duradoura, obrigam a que este modelo de atuação seja repensado. Pode valer pouco vacinar massivamente a população de determinado um país, se o seu vizinho não tiver condições para controlar a situação pandémica.
Garantir a exclusividade de uma futura vacina implica mais do que apenas a sua compra. Como vimos nesta crise de saúde pública, é perfeitamente possível um país impor limites, ou mesmo suspender, a exportação de produtos médicos. De forma a antecipar este possível entrave, os acordos feitos de compra antecipada de futuras vacinas, contemplam a construção de capacidade instalada nos países interessados. Ou seja, parte dos fundos que poderiam estar alocados à investigação, são desviados para criar redundâncias na produção, de forma a evitar a suspensão das exportações. Novamente, o nacionalismo das vacinas prova que apenas produz ineficiências.
Num contexto global de escassez, a corrida às vacinas produz um jogo de soma zero, em que o vencedor imediato obtém apenas uma vitória pírrica. A pandemia será controlada de forma mais célere, se a futura vacina for administrada com o formato o mais eficiente possível. Faz sentido, a vacina estar disponível em primeiro lugar a profissionais da saúde e aos vários grupos de risco acrescido, seja em que país for, que vacinar totalmente a população de um país rico cuja situação epidémica está controlada.
Uma droga inovadora, em contexto de pandemia, é sem dúvida um bem público global. O financiamento com recursos públicos que o desenvolvimento da vacina recebeu, apenas reforça esta afirmação. Como tal, deve estar disponível a todos, de forma rápida e eficiente. Tal como nas restantes dimensões da nossa vida, o caso das vacinas não é exceção: o nacionalismo não é a solução.
Pois bem, infelizmente o bem comum que é uma vacina poderá estar condicionado por um jogo de interesses. Concordo que os profissionais de saúde deveriam ser dos primeiros a receberem a vacina, além das pessoas que pertencem aos grupos de risco.