É no verão que as bandas filarmónicas têm a maior parte das suas atuações, quer seja em concertos, arruadas, missas e procissões em festas religiosas e tradicionais. No entanto, em 2020, a covid-19 cancelou praticamente tudo e os músicos ficaram em silêncio.
Os ensaios foram suspensos em março, as sedes continuam fechadas, as cadeiras vazias e os instrumentos parados.
“Está a ser um verão atípico”, afirmou à agência Lusa Lionel Eira, maestro da Banda Musical do Pontido, em Vila Pouca de Aguiar.
O também professor de música previa fazer entre 25 a 30 festas. Era assim o ritmo antes da covid-19.
“Há quase 20 anos que, no verão, todos os fins de semana era levantar cedo, ir para a festa e chegar a casa tarde. É uma rotina que se criou e já fazia parte da minha vida. Este verão é completamente diferente”, frisou Lionel Eira.
São 55 os músicos, quase todos jovens, que constituem esta banda que já contabiliza 255 anos de vida e que, este ano, parou pela segunda vez em toda a sua existência. O primeiro interregno, há umas décadas, deveu-se à falta de gente.
Rita Costa é estudante universitária no Porto, professora de música em duas escolas e faz parte da banda do Pontido, onde toca flauta transversal.
“Custa passar os fins de semana sem fazer as procissões, sem o calor, que às vezes nos custa, mas que agora sentimos falta. A banda também é feita de convívio”, salientou.
Depois de um ano em que tudo teve que parar, Rita deseja que em 2021 as coisas melhorem e a banda e as escolas retomem a atividade normal.
A Banda de Sanguinhedo, no concelho de Vila Real, perspetivava fazer uma média de 30 serviços neste verão e também aqui tudo foi cancelado.
“É transtornante. As pessoas sentem saudades de participar, de passear, da banda”, afirmou à Lusa Pedro Caetano, tesoureiro, músico há 20 anos e professor de educação musical.
São à volta de 40 os músicos, a maioria jovens, que constituem a banda que tem 103 anos e é liderada pela maestrina Vera Jesus.
“Infelizmente este verão teve que parar tudo”, afirmou esta professora de música do conservatório de Vila Real e que começou a tocar aos sete anos.
É uma paixão que lhe corre no sangue. Os pais e avós estavam ligados à música e já os seus filhos, de nove e seis anos, andam na banda de Sanguinhedo.
“As pessoas sentem falta de viajar, da convivência em geral, recebemos uma quantia da banda, mas acho que ninguém anda aqui por essa remuneração, é mais pela convivência”, acrescentou Pedro Caetano.
Mateus Afonso, com 12 anos, é um dos elementos mais novos. Toca trompete e este seria o terceiro verão a tocar. Contou que, às vezes, ensaia em casa, mas que sente falta do convívio com os colegas.
Liliana Ribeiro toca clarinete há 12 anos e fala num “verão muito diferente, para pior”.
Para assinalar a festa da aldeia, a banda juntou-se ‘online’ e gravou o hino da aldeia. “Foi triste não atuar no dia da nossa festa”, assinalou Liliana Ribeiro.
O Governo instituiu 01 de setembro como o Dia Nacional das Bandas Filarmónicas, reconhecendo o trabalho que desenvolvem em favor da sociedade e da cultura.
“As bandas filarmónicas são ninhos de educação e de convívio (…) Muitos e bons músicos, principalmente de sopros, provêm das bandas de música”, frisou Vera Jesus.
Ambas as bandas equacionam o regresso aos ensaios em setembro.
Pedro Caetano referiu que será assegurado o distanciamento, prevendo-se ensaios ao ar livre ou no salão da casa do povo de Sanguinhedo, onde há mais espaço.
Lionel Eira disse que os ensaios, no caso do Pontido, serão retomados por etapas, com os grupos separados por instrumentos.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) impôs para esta atividade o distanciamento de cerca de um metro e meio a dois metros entre os músicos durante as atuações, até porque grande parte dos instrumentos utilizados são de sopro.
NR/HN/LUSA
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