Pandemia agrava distúrbios alimentares

26 de Agosto 2020

A pandemia da Covid-19 está a ter um impacto profundo e negativo em nove de cada dez pessoas com perturbações alimentares prévias, revela um novo estudo da Universidade de Northumbria, em Newcastle (Reino Unido).

De acordo com a Beat – instituição de caridade britânica para pessoas com problemas alimentares – cerca de 1,25 milhões de pessoas no Reino Unido têm um distúrbio alimentar. Até agora, pouco se sabia sobre o impacto da pandemia nesta população.

Embora seja evidente que o surto da Covid-19 está a ter um efeito significativo na população global, a investigação realizada por académicos do Departamento de Psicologia da Universidade de Northumbria mostra que a pandemia representa desafios adicionais e únicos para os indivíduos com distúrbios alimentares.

O estudo surge após apelos da comunidade científica para investigar as consequências da pandemia para a saúde mental de grupos vulneráveis, tais como os idosos e aqueles com graves problemas de saúde mental, incluindo as pessoas com experiência prévia de distúrbios alimentares.

Para além da sensibilização para o impacto da pandemia nas pessoas afetadas por estes problemas, os resultados têm o potencial de influenciar as futuras disposições, orientações e políticas dos serviços de saúde. O artigo foi publicado no “Journal of Eating Disorders”.

Durante as fases iniciais do confinamento no Reino Unido, a Dra. Dawn Branley-Bell e a Dra. Catherine Talbot fizeram um inquérito a indivíduos que, em todo o país, estão atualmente a sofrer, ou em recuperação, de um problema alimentar.

Os resultados sugerem que as perturbações da vida diária, como resultado do confinamento e distanciamento social, podem ter um impacto prejudicial no bem-estar de uma pessoa, com quase nove em cada dez  participantes (87%) a relatarem que os seus sintomas se tinham agravado  durante a pandemia. Mais de 30% declararam que os seus sintomas eram muito piores.

Os resultados indicam impactos prejudiciais no bem-estar psicológico, incluindo diminuição dos sentimentos de controlo, aumento dos sentimentos de isolamento social, aumento da ruminação sobre a desordem alimentar e da sensação de escasso apoio social.

Através da análise das respostas dos participantes, os investigadores descobriram que os efeitos negativos podem ser devidos a mudanças nos indivíduos: rotina regular, situação de vida, tempo passado com amigos e familiares, acesso ao tratamento, envolvimento em atividade física, relação com os alimentos e utilização de tecnologia.

Um dos maiores desafios enfrentados pelos inquiridos foi a redução na prestação de serviços de saúde ou discrepâncias no acesso aos serviços de saúde. Alguns relataram ter sido dados de alta prematuramente de unidades de internamento, ter o tratamento suspenso ou continuar em lista de espera para tratamento, e receber apoio pós-diagnóstico limitado.

Uma redução na prestação de serviços fez com que alguns participantes se sentissem como um “fardo”, um “inconveniente”, e “esquecidos” pelo governo e o “National Health Service” (NHS).

A Beat, com mais de 25 anos de experiência de trabalho com doentes e seus familiares, relatou um aumento de 81% de contactos com todos os canais da Linha de Apoio. Isto inclui um aumento de 125% nas redes sociais e um incremento de 115% na assistência a grupos de pessoas através da Internet.

Mais informação: Exploring the impact of the COVID-19 pandemic and UK lockdown on individuals with experience of eating disorders

Authors: Dr Dawn Branley-Bell & Dr Catherine V. Talbot

Journal: The Journal of Eating Disorders

NR/HN/Adelaide Oliveira

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