“É muito difícil prever, mas provavelmente só teremos [uma vacina] no início do próximo ano, na melhor das hipóteses e assumindo que os ensaios clínicos têm resultados positivos em termos de eficácia e de segurança”, declara em entrevista à agência Lusa o chefe-adjunto do programa de doenças do Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), Piotr Kramarz.
Notando que existe, nomeadamente na Europa, “um grande número de vacinas em preparação em tempo recorde, […] muitas delas já em fase de testes” avançados, o cientista diz à Lusa que o ECDC está a “preparar já planos de monitorização”.
“Para quando a vacina estiver disponível podermos monitorizar a sua eficiência e para garantir que é segura”, refere Piotr Kramarz.
Na passada quinta-feira, a Comissão Europeia oficializou, em nome da União Europeia, a compra de 300 milhões de doses de uma potencial vacina da farmacêutica AstraZeneca, que está em fase avançada de ensaios clínicos de larga escala e com resultados promissores.
A formalização vem no seguimento de um contrato prévio de aquisição assinado pela com a AstraZeneca em meados de agosto, dada a potencial vacina que a empresa britânica está a desenvolver em conjunto com a Universidade de Oxford.
A Comissão Europeia está, também, a discutir acordos semelhantes com outros fabricantes de vacinas, designadamente depois de já ter concluído conversações exploratórias com a Sanofi-GSK (31 de julho), a Johnson & Johnson (13 de agosto), a CureVac (18 de agosto).
Também na quinta-feira, a Comissão Europeia assegurou que, “juntamente com os Estados-membros e a Agência Europeia de Medicamentos, irá utilizar as flexibilidades existentes no quadro regulamentar da UE para acelerar a autorização e a disponibilidade de vacinas bem-sucedidas contra a covid-19, mantendo simultaneamente os padrões de qualidade, segurança e eficácia da vacina”.
Ainda assim, de acordo com Piotr Kramarz, este é um processo que deverá demorar mais alguns meses.
Mas há “boas notícias” relativamente à covid-19 na Europa, de acordo com o cientista.
“Em termos de tratamentos, existe já um autorizado, o Remdesivir, que é um medicamento antiviral usado para pacientes graves”, destaca, numa alusão ao aval dado pela Agência Europeia de Medicamentos para utilizar este fármaco para combater a covid-19.
No final de julho, o executivo comunitário também assinou um contrato de 63 milhões de euros com a farmacêutica Gilead para assegurar tratamentos com Remdesivir na União Europeia.
Outra das boas notícias é que “há mecanismos para testar e identificar os casos de forma eficaz” na Europa, destaca Piotr Kramarz na entrevista à Lusa.
“A capacidade de realizar testes aumentou significativamente e aprendemos bastante sobre o rastreamento de contactos e sobre como contactar as pessoas que estiveram em contacto com infetados, nomeadamente através de aplicações móveis”, reforça o responsável.
E assegura: “Estamos muito mais bem preparados [para enfrentar a pandemia] do que estávamos na primavera”.
Desde logo porque “os países aprenderam muito com esta primeira fase e, por isso, já há bastante preparação nos serviços de saúde”, justifica.
Em todo o caso, o especialista antecipa um “período difícil” de ressurgimento das infeções nos próximos meses, que poderá coincidir com a época da gripe normal, razão pela qual adianta que o ECDC está já “a pedir aos Estados-membros que se preparem para isso”.
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.
NR/HN/LUSA
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