“Tendo em consideração o condicionamento político prévio a que se assistiu nos últimos meses, e que oportunamente a Ordem dos Médicos lamentou, a decisão foi ao encontro do que era esperado, com a esfera política a prevalecer sobre a esfera técnica”, refere a Ordem dos Médicos (OM), em comunicado.
No primeiro pedido de acreditação feito pela Universidade Católica (UCP), há cerca de dois anos, a OM foi uma das duas entidades que deram parecer negativo ao novo curso.
Os pareceres negativos das duas entidades levaram a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) a “chumbar” o primeiro pedido de acreditação.
A UCP voltou a apresentar novo pedido de acreditação que foi também alvo de avaliação pela OM, que enviou o seu parecer à A3ES em 14 de agosto e que hoje o tornou público.
A Ordem aponta reservas e reitera que “subsistem na proposta atual vários motivos de preocupação que colocam em causa a qualidade do curso”.
No parecer, a OM reconhece que houve melhorias, mas considera que ainda subsistem “vários motivos de preocupação (…) que colocam em causa a qualidade da proposta de ciclo de estudos da UCP”.
Um dos problemas apontados relaciona-se com os locais de estágio. A OM reconhece melhorias, nomeadamente um “contacto clínico mais completo”, mas alerta para algumas situações como o caso dos alunos que vão fazer “todo o estágio de Ginecologia/Obstetrícia e Pediatria em unidades sem bloco de partos e maternidade”, que estão previstos para os Hospitais da Misericórdia de Évora, Luz Setúbal, Luz Odivelas e Luz Torres de Lisboa.
No mesmo sentido aponta o estágio de Psiquiatria no Hospital Luz Arrábida, “que não tem internamento psiquiátrico, baseando-se apenas em consulta externa, coartando deste modo as possibilidades de contacto com muita da psicopatologia mais grave”.
Outro dos problemas levantados prende-se com o Hospital Beatriz Ângelo (HBA), que tem sido gerido em regime de parceria público-privada pelo Grupo Luz Saúde, mas cujo contrato termina em janeiro de 2022.
Com um novo concurso público, poderá surgir uma nova entidade gestora. Para a Ordem, tal mudança é “uma enorme ameaça ao ensino clínico deste ciclo de estudos, dado que esta instituição de saúde é, indubitavelmente, aquela que reúne as melhores condições para assegurar um processo de ensino/aprendizagem com qualidade”.
A OM defende, por isso, que só se deveria viabilizar qualquer proposta alicerçada nesta instituição depois de conhecido o resultado do concurso.
“O protocolo com a Universidade de Maastricht foi celebrado por nove anos, o protocolo com a Luz Saúde por 15 anos, e o da União das Misericórdias por seis anos. É, deste modo, evidente que a proposta apresentada não garante a realização de estágios clínicos em ambiente hospitalar do SNS, e que as dúvidas sobre a continuidade do HBA no projeto para além de 2021 têm todo o fundamento”, conclui a OM.
Para a Ordem dos Médicos, a instituição deveria acolher as recomendações feitas no relatório para que “a proposta possa estar em condições de poder oferecer um ciclo de estudos integrado de Mestrado em Medicina com a qualidade aceitável e exigível a nível nacional”.
Em declarações à Lusa, a reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, disse hoje que o curso de medicina deverá começar a funcionar em setembro do próximo ano, estando ainda em avaliação o valor das propinas.
Na terça-feira, a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) informou a Universidade Católica que tinha acreditado aquele que será o primeiro curso de Medicina ministrado em Portugal por uma instituição privada.
O novo curso de medicina conta com uma parceria com a Universidade de Maastricht e o Grupo Luz Saúde e “distingue-se dos currículos tradicionais por ter uma abordagem mais prática e integrada desde os primeiros anos”, segundo uma explicação do gabinete de imprensa da UCP.
LUSA/HN
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