“A Covid-19 pôs o mundo em teste, agora é altura de avançar para uma reforma substancial da OMS e os aspetos financeiros e políticos são importantes. É tempo de a OMS ganhar mais poder e tornar-se numa organização que responda às necessidades de um mundo global, mas isso depende de todos os países”, disse a governante, na participação por videoconferência na palestra “Reforçar o papel da União Europeia na saúde global”, na Cimeira Mundial de Saúde, a decorrer em Berlim.
Segundo Marta Temido, é fundamental a existência de uma “perspetiva comum” para o futuro no espaço da União Europeia (UE), relevando ainda a importância de aprender com a pandemia e que “há espaço a nível global” para que os países possam estar mais preparados para lidar com futuras crises sanitárias internacionais.
“Assim que a crise pandémica termine, a OMS não poderá sofrer uma redução na sua capacidade para agir”, notou, sublinhando: “A UE e os estados-membros podem e devem ter um papel ativo no contexto desta reforma para uma ação mais abrangente da OMS, nomeadamente em defesa da saúde como um direito humano, apoiando a solidariedade global e um modelo de governação assente no multilateralismo”.
A defesa de um papel de maior destaque da UE no setor foi uma constante nas intervenções da ministra da Saúde, que adquiriram ainda um peso especial pela futura presidência portuguesa a partir de janeiro de 2021. Consequentemente, Marta Temido reconheceu a premência de uma maior proatividade europeia e de uma “estratégia renovada de saúde global”, que reflita o peso financeiro e político comunitário e permita novas parcerias.
“As expectativas são muito altas. As mudanças no panorama da saúde mundial e no quadro geopolítico da última década requerem que a UE reexamine a sua posição e o seu papel na luta por objetivos globais de saúde. Como a OMS realçou, esses objetivos de saúde globais são cobertura de saúde universal, emergências sanitárias e maior bem-estar para todos”, frisou.
Questionada sobre os atuais maiores desafios na resposta à crise sanitária a nível europeu, Marta Temido apontou a “implementação” de políticas e a sua tradução em “soluções práticas” com real impacto na vida dos cidadãos.
“A grande preocupação neste momento é a implementação. Temos um consenso generalizado para avançar, por isso temos de fazê-lo agora, com a preocupação de não deixar ninguém para trás e o cuidado de ter boas soluções para impulsionar a saúde a nível mundial. Este é o foco: implementação e soluções práticas, que as pessoas sintam no seu dia-a-dia, ou corremos o risco de falhar”, alertou.
A ministra da Saúde explicou ainda que a presidência portuguesa vai procurar uma “abordagem interestrutural com vista a maximizar ganhos de saúde”, através do esforço de adaptação dos “sistemas nacionais aos desafios relacionados com a saúde e o ambiente”, além de reconhecer a influência da saúde global na agenda para a segurança mundial. Por outro lado, elencou ainda várias apostas para o primeiro semestre do próximo ano.
“Quanto à defesa da saúde e prevenção de doenças, a presidência portuguesa vai ter especial atenção ao lançamento de instrumentos destinados a promover saúde mental, literacia em saúde e estilos de vida mais saudáveis”, referiu, sem deixar de admitir que “nos próximos meses, a principal prioridade global vai continuar a ser a necessidade de responder à pandemia de Covid-19 e o esforço para tentar tê-la sob controlo”.
O papel que Portugal pode ter na diplomacia em torno da saúde foi também destacado pela sua presença na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que, segundo a ministra, coloca o país “numa posição privilegiada” enquanto único estado-membro europeu na organização, conferindo-lhe “uma maior responsabilidade como parceiro de discussão”, em especial com os países do hemisfério sul.
A Cimeira Mundial da Saúde, iniciada no domingo, é organizada desde 2009 pela Alemanha, França, Comissão Europeia e OMS, e reúne virtualmente até terça-feira centenas de políticos, académicos e representantes de organizações internacionais e empresas.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e quase 42,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 2.316 pessoas dos 118.686 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
LUSA/HN
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