Cristina Sousa, presidente da Abraço, associação que promove a qualidade de vida da pessoa infetada e visa contribuir para a erradicação da doença, afirmou, em declarações à agência Lusa, que a “grande mensagem” que “é importante passar” é que “quem vive com a doença se tiver tratamento, fica indetetável, por isso não transmite a doença”.
“Isto é uma das mensagens mais importantes neste momento para diminuir o estigma e o preconceito em relação à doença e até a autoexclusão de quem é infetado com VIH porque, efetivamente, se as pessoas pararem um minuto e perceberem que se estiverem em tratamento não vão transmitir doença também percebem que não têm que ter medo de se aproximar, de socializar, nem precisa de se esconder por ter uma doença crónica idêntica a muitas outras e pelas quais as pessoas não se escondem”, salientou.
Sobre o impacto da pandemia da Covid-19 no acompanhamento dos utentes da Abraço, Cristina Sousa disse que se manteve igual, à exceção do período do estado de emergência em que era apenas feito por telefone.
“Mesmo em termos de rastreios a procura quase que parecia que não estávamos em tempo de Covid-19 na Abraço, porque continuámos a fazer tudo como fazíamos antes”, sustentou.
Onde a Abraço sentiu diferença foi “nas pessoas que vão chegando ao país e não trazem medicação e não sabem como dirigir-se ao hospital.
“Aí tivemos um ‘boom’ de pessoas que além de precisarem que fizéssemos esta ponte com os hospitais, para ter acesso à medicação de forma atempada (…), acarretam também problemas sociais”, disse.
Cristina Sousa explicou que são pessoas que vêm sem trabalho ou com trabalhos precários e facilmente ao fim de dois três meses perdem o seu posto de trabalho.
Em termos de diagnóstico de casos de VIH/SIDA, adiantou que, de uma maneira geral, a população mais vulnerável para a infeção VIH é a de homens que têm sexo com homens.
Segundo o relatório “Infeção VIH e SIDA em Portugal – 2020”, embora a transmissão heterossexual se mantenha como a mais frequente, os casos em homens que fazem sexo com homens constituíram a maioria dos novos diagnósticos (56,7%).
“Estes novos casos são casos recentes de infeção e há uma perceção de que continuamos a não chegar às pessoas que já vivem com a doença há muito tempo”, geralmente pessoas com mais de 50 anos, disse Cristina Sousa, explicando que muitas vezes são diagnosticadas já em meio hospitalar porque têm outras complicações associadas.
O relatório da Direção-Geral da Saúde e o do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge refere que o facto de quase metade dos casos ainda serem diagnosticados tardiamente indica que continua a “ser fundamental” um “esforço e investimento” neste campo para que situações como os diagnósticos tardios nos homens heterossexuais (67,3%) maiores de 50 anos (68,1%) deixem de ser uma realidade.
Devido à situação de pandemia, a Abraço teve de reajustar a sua tradicional gala e criou “uma corrente de solidariedade digital que promove a inclusão, a luta pela igualdade e pelos direitos humanos”.
Numa espécie de viagem no tempo, a ‘Pocket Gala Abraço’ dá voz a artistas do transformismo num evento digital que irá decorrer terça-feira às 21:00.
O bilhete custa um euro e o valor angariado irá reverter para a Abraço para que possa continuar a assegurar a resposta diária de apoio às pessoas que vivem com a infeção e respetivas famílias.
LUSA/HN
0 Comments