Amadora-Sintra num hospital privado para recuperar listas de espera

5 de Dezembro 2020

Cirurgiões do Hospital Fernando Fonseca (HFF) estão a fazer dez cirurgias de ambulatório por dia numa unidade de saúde privada para recuperar as listas de espera desta unidade na Amadora, avançou à Lusa uma responsável da instituição.

Depois da atividade assistencial não urgente ter parado devido à pandemia de covid-19, houve orientações para a sua retoma e agendar, pelo menos, parte das cirurgias que não foram realizadas, disse Alexandra Ferreira, vogal do conselho de administração do HFF (Amadora-Sintra).

“Por volta de setembro, e a par com a elaboração do nosso plano de contingência para a covid-19 e plano de inverno, nós propusemos logo fazer cirurgias no exterior, porque o HFF tem vindo a deslocalizar recursos humanos, nomeadamente anestesistas e enfermeiros, para a área covid-19”, adiantou.

Nesse sentido, contratualizou com o Hospital Trofa Saúde Amadora 625 cirurgias de ambulatório no final de setembro, tendo já executado metade do contrato, avançou Alexandra Ferreira, adiantando que os cirurgiões do Amadora-Sintra fazem diariamente cinco cirurgias de manhã e outras tantas à tarde.

Alexandra Ferreira explicou que o Amadora-Sintra não faz cirurgias por falta de espaço, uma vez que até remodelou o bloco operatório, uma obra orçada em 1,5 milhões de euros. “O bloco está excelente, tem 11 salas e foi todo remodelado e reequipado”, mas faltam profissionais de saúde.

“Por falta de recursos humanos e com tanto constrangimento na contratação, nós tínhamos cirurgiões, mas não tínhamos nem anestesistas nem enfermeiros para assegurar as 11 salas”, declarou.

Neste sentido, o hospital escolheu para realizar as cirurgias no exterior as especialidades com maior lista de espera, nomeadamente cirurgia geral e otorrino, e as que podiam ser feitas em ambulatório.

O HFF propôs a três entidades a realização desses procedimentos e a entidade que aceitou os preços propostos foi a o Hospital Trofa Saúde Amadora, que cede as instalações e os recursos de enfermagem e anestesia.

“Quem vai operar são os cirurgiões do HFF que seguem os doentes” e que depois os acompanham no recobro e dão alta, disse Alexandra Ferreira.

Como a covid-19 se mantém, em janeiro o hospital vai fazer um contrato semelhante com um hospital privado, que pode não ser o Trofa da Amadora, estando já a lançar um novo caderno de encargos.

Esse contrato deverá incluir cirurgia de ambulatório com pernoita e cirurgias com internamento para dar resposta à atividade assistencial não urgente, porque tudo o que é prioritário continua a ser feito no Amadora-Sintra.

“Temos a lista oncológica quase toda controlada porque continuamos a ter duas salas para doentes com neoplasia e continuamos a ter uma sala para doentes de trauma e toda a cirurgia de urgência”, assegurou.

Questionada se os doentes aceitam ser operados noutro hospital, Alexandra Ferreira afirmou que “os doentes do HFF são muito fiéis aos médicos que os seguem”.

“Nós temos tido esta prova nos vales cirúrgicos em que muitos não aceitam porque querem ser operados pelo cirurgião que os seguiu”, contou.

Antes da cirurgia, é sempre realizado uma consulta pré-operatória para garantir que os doentes são informados que vão ser operados noutra instituição pelo seu cirurgião e não há constrangimentos nesse aspeto.

“Quem não aceita ser operado são os mesmos que não aceitam vir para o HFF porque que têm medo da covid. Rejeitam vir para cá como para outra instituição”, comentou.

Alexandra Ferreira afirmou que a expectativa dos doentes em serem operados “é grande” e quando sabem que o hospital está a trabalhar para não os manter em lista de espera “é muito bem acolhido” porque sentem que a instituição está a olhar por eles.

Por outro lado, as equipas clínicas têm “muita sensibilidade”: “Todos os dias nos perguntam se isto vai acontecer novamente em 2021, se vamos prolongar o contrato, se podemos colocar mais procedimentos e se é possível fazer cirurgias que tenham internamento”.

“Nós estamos a ter isto tudo em consideração porque pela via da covid e pela escassez de recursos humanos não se pode fazer tudo cá dentro”, lamentou.

“O HFF quer investir muito e continuar a ter resposta não só para os doentes covid, mas para toda a população que serve de 500 mil habitantes”, rematou.

LUSA/HN

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