Especialistas em saúde, reunidos num evento organizado pela SciDev.Net (uma estrutura de divulgação da ciência da organização sem fins lucrativos CABI), consideram que o receio de conspirações ou efeitos adversos para a saúde poderiam ter um impacto negativo nos programas de vacinação para travar o SARS-CoV-2.
A preocupação com a “hesitação em vacinar” – pessoas que desconfiam das vacinas ou as rejeitam abertamente – está a crescer em todo o mundo. Este fenómeno foi identificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já em 2019, como uma das dez principais ameaças mundiais na saúde.
Natalia Pasternak, presidente do “Instituto Questão de Ciência”, do Brasil, acredita que a “hesitação em vacinar” está a aumentar no seu país – onde neste momento “22% das pessoas desconfiam das vacinas”, em comparação com apenas 3% em abril de 2019.
No Brasil, a desinformação do governo e a propaganda política têm minado a confiança nos serviços de saúde, pelo que os cientistas devem intensificar as suas intervenções e falar honestamente sobre questões importantes, tais como a taxa de efetividade nos ensaios clínicos e os efeitos secundários da vacina, defende.
“Durante a pandemia, as pessoas foram subitamente expostas a termos técnicos que nunca tinham ouvido antes”, referiu. “Atualmente, toda a população segue os ensaios das vacinas como se estivesse a assistir ao Mundial de futebol, mas não está preparada para compreender o conteúdo do que lhe é transmitido”.
Alison Wiyeh, assistente de investigação no Centro de Análise Estratégica, Investigação e Formação da Universidade de Washington, referiu que encontrou o mesmo problema nos Camarões onde grupos minoritários que já se sentem marginalizados, são especialmente suscetíveis à desinformação sobre as vacinas.
A investigadora defende que os esforços para comunicar a segurança da vacina devem incidir especialmente nas mulheres. “A pessoa que acompanhará ao centro de saúde aqueles que precisam de ser vacinados será, provavelmente, uma mulher”, referiu. “Se as mulheres decidirem que não querem a vacina, então é isso que vai acontecer. Já temos dados de que as mulheres podem estar mais hesitantes e a questionar mais”.
Os peritos concordam que há pouca informação sobre os níveis mundiais desta “hesitação em vacinar”. Mas a questão é tão antiga como as próprias vacinas, diz David Heymann, professor de epidemiologia de doenças infeciosas na “London School of Hygiene and Tropical Medicine”. Os primeiros programas de vacinação contra a varíola e a poliomielite também enfrentaram forte oposição, salientou.
“A desconfiança nas vacinas Covid-19 virá de grupos anti-vacinação que se opõem a qualquer imunização… Há todo um conjunto de pessoas que estão a ser influenciadas por esses grupos mas a situação pode ser revertida”. Para tal, os cientistas devem comunicar honestamente os riscos e benefícios da vacina, e serem transparentes quanto ao seu desenvolvimento. Alison Wiyeh salienta que a rapidez dessa informação é outro aspeto crucial, uma vez que se torna muito mais difícil mudar a opinião das pessoas depois de terem sido expostas à desinformação.
Zaichen Mallace-Lu, gestor estratégico do programa de envolvimento público da Fundação de investigação médica “Wellcome”, assinalou que existe outra estratégia para melhorar a confiança nas vacinas: assegurar que as pessoas têm acesso a cuidados de saúde de qualidade. Pronunciando-se contra a “imunização a todo o custo”, afirmou que as intervenções de saúde na Covid-19 devem ser construídas em torno das preocupações da comunidade e eventualmente integradas nos serviços locais.
“Muito depende do ponto de dispensa da vacina “, referiu. “Uma boa experiência no serviço de saúde reforça a confiança e a motivação e cria um feedback positivo que encoraja a vacinação”.
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NR/AG/HN/Adelaide Oliveira
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