“Estou com grande receio de que esta eleição presencial seja a menos participada na história da democracia porque não se pensou preparar o voto por correspondência”, disse Nathalie de Oliveira, membro do Partido Socialista português e francês e apoiante da candidata presidencial Ana Gomes, em declarações à agência Lusa.
Esta é uma possível realidade que inquieta os representantes das diferentes campanhas eleitorais em França com quem a Lusa falou. Sem a alteração necessária para o voto por correspondência, os emigrantes não estão motivados para ir às urnas.
“Todos gostariam de ter a possibilidade de votar por correspondência e agora, por causa da situação pandémica, ainda está pior. As pessoas não estão muito motivadas”, disse Francisco Pacheco de Amorim, apoiante de André Ventura e que promove o Chega junto da comunidade.
Ao voto presencial em tempos de pandemia, junta-se também a escassez de mesas de voto no território francês.
“Os emigrantes portugueses, em tempo normal, têm imensos obstáculos à participação por ser um voto presencial e isso não é fácil quando se têm vindo a suprimir, ao longo do tempo, postos consulares”, lembrou Cristina Semblano, membro da mesa nacional do Bloco de Esquerda e apoiante de Marisa Matias.
Em todo o país, há um total de 11 locais onde será possível votar, mas as dimensões do território francês fazem com que as distâncias impliquem nalguns casos horas de viagem até à mesa de voto mais perto.
O mesmo acontece nos países limítrofes de França, como Bélgica e Luxemburgo. Uma situação que Alcino Ferreira, residente no Luxemburgo e apoiante de Vitorino Silva e membro do Partido Reagir Incluir Reciclar, também denuncia.
“Não faz sentido uma pessoa que vive a 60 quilómetros do Consulado do Luxemburgo tenha de ir votar ao Consulado em Liege que fica a quase 200 quilómetros”, exemplificou.
Nathalie Oliveira, membro da Comissão Nacional do PS francês e do PS português com mais de 15 anos de militância, considera esta campanha “atípica”.
“É uma campanha completamente atípica e muito difícil. Andamos em campanha desde outubro de forma virtual e com muitos contactos telefónicos e e-mails. Mas a realidade desta campanha não é física nem humana”, relatou.
Aos contactos até agora, a Cristina Semblano têm respondido que não ir votar é também “uma forma de protesto”.
“Apesar de a emigração ser uma constante da nossa vida e da nossa sociedade e até da nossa economia, ela é perfeitamente negligenciada e descurada em todos os aspetos. […] A maioria das pessoas não vai votar. Algumas até em forma de protesto “, defendeu a bloquista.
Uma campanha ainda mais difícil para um partido novo, como o Iniciativa Liberal, mas que faz até agora um balanço positivo do ativismo virtual junto da comunidade.
“Quando se fala de um partido novo, como o Iniciativa Liberal, não é fácil partilhar de forma direta. Entre partilhar um pouco as ideias gerais, as linhas do partido e divulgar um pouco o nome e a ideologia, acho que tem resultado de forma positiva”, argumentou Fernando Martins, fundador do núcleo da Bélgica e do Luxemburgo do Iniciativa Liberal e apoiante de Tiago Mayan.
Ir às urnas ou não, é, acima de tudo uma organização individual das prioridades de cada um.
“Tem a ver com a prioridade das preocupações que vêm da pandemia, das restrições e até com o aumento do nível desemprego. Até que ponto é que as pessoas colocam o ato cívico como ir votar nas listas de prioridades? A mensagem que se tem passado é que é importante participar e ter uma voz ativa, mas não é fácil de passar”, concluiu Fernando Martins.
Os portugueses residentes no estrangeiro vão poder votar nos dias 23 e 24 de janeiro, respeitando as regras sanitárias impostas em cada país.
A Lusa tentou falar com todas as campanhas às eleições presidenciais, sem sucesso nalguns casos.
LUSA/HN
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