Brasil iniciou vacinação de profissionais de saúde com vacina chinesa

24 de Janeiro 2021

O início da vacinação contra a covid-19 no estado de São Paulo, um dos mais atingido pela doença no Brasil, provocou um misto de alívio e gratidão entre os profissionais da área da saúde que estão a ser imunizados.

No Hospital das Clínicas, um complexo hospitalar que tem mais de 20 mil funcionários e faz parte da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde relataram alívio e gratidão após receberem a primeira dose da CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, usado para iniciar imunizar os brasileiros.

Renan António Daniel, 26 anos, estudante de medicina que trabalha em radiologia, contou à Lusa a sensação de ser dos primeiros a tomar vacina: “Estamos vivendo dez, quase um ano de um período em que todo mundo fica trancado, fechado em casa e trabalhando aqui no HC [Hospital das Clínicas] a gente é exposto a risco, é um risco muito maior do [que] todas as outras pessoas. Ser um dos primeiros a tomar vacina para evitar que esta doença continuar se propagando e, trabalhar em segurança agora é uma sensação única”.

Questionado se teve medo de se contaminar na pandemia antes do início da vacinação, Renan António Daniel disse que temia mais pela família e amigos, já que atendeu pacientes com covid-19 no Hospital das Clínicas.

“Pessoalmente eu não tive medo. Tive medo pelas pessoas a minha volta. Não sou de São Paulo, vim fazer residência [médica]. Fiquei mais de seis meses sem voltar para a minha casa para evitar, para não ter contacto com meus pais que são idosos, eles têm mais de 65 anos”, frisou.

O Brasil começou a vacinar profissionais da saúde, idosos que vivem em asilos e indígenas na última segunda-feira, seguindo as determinações do Plano Nacional de Imunização.

A médica Paula Arantes, 46 anos, era outra profissional da saúde que comemorava a vacinação: “Eu sinto como um privilégio receber esta dose da vacina. Sim, é importante vacinar todos os profissionais da saúde, mas eu foco de uma certa forma me sentindo muito grata. Estou me sentindo grata de poder ser uma das primeiras a receber a dose e poder fazer jus a isto [trabalhando] no maior complexo hospitalar da América Latina”, contou a médica que trabalha no Hospital das Clínicas desde 2000.

O mesmo alívio e alegria também mostrava Roberta de Souza Maldonado, 35 anos, técnica em enfermagem.

“Receber a primeira dose é uma imensa alegria até porque nós brasileiros já com muita luta, sabemos de muitas mortes dos nossos entes queridos. Nós trabalhamos com muita dor no coração, mas mesmo assim trabalhamos firme para os nossos pacientes”, frisou a técnica em enfermagem que também tomou a primeira dose da CoronaVac.

Entre os profissionais da saúde do Brasil, um dos países mais afetados pela covid-19 com mais de 215 mil mortos e 8,6 milhões de infetados, segundo dados do Ministério da Saúde, a maior preocupação, além de adoecer, é a possibilidade de transmitir o vírus para outras pessoas.

A CoronaVac tem 50,38% de eficácia contra a infeção por covid-19, segundo dados divulgados pelo Instituto Butantan, que testou o imunizante no Brasil em parceria coma Sinovac e deverá fabricar o medicamento no país.

Na sexta-feira, apenas o estado de São Paulo já havia vacinado mais de 60 mil pessoas, segundo dados de um placar eletrónico chamado “Vacinômetro” que está disponível no site do governo regional.

“Minha família está muito animada. Eles estão animados em ver que agora eu recebi a vacina, de saber que daqui para frente, depois de um tempo [quando a vacina] gerar imunidade, eu já posso ter um contato maior com eles”, contou estudante de medicina Renan António Daniel.

Já a médica Paula Arantes frisou que era a única pessoa fora do grupo de risco em sua casa e agora com a imunização ficará mais tranquila na convivência com os filhos, que são asmáticos, e o marido, que também tem problemas de saúde.

“Estamos numa campanha e é importante ficar consciente que neste momento o melhor é fazer o que está estipulado porque fazemos parte de uma política de saúde pública. Na minha vez eu vou tomar a minha dose e vou torcer para que esta dose deles chegue logo”, disse a médica.

“Eles estão muito ansiosos para tomar a vacina também, tanto meu marido quando meus filhos estão ansiosos para tomar a vacina. Meu marido, meus filhos, meu pai, meu sogro, está todo mundo querendo esta vacina”, concluiu.

O Brasil é um dos países mais atingidos do mundo pela pandemia, tendo registado mais 1.202 mortes e 62.334 infeções confirmadas por covid-19, nas últimas 24 horas.

Até agora, desde o início da pandemia, já morreram, em consequência da doença, 216.445 pessoas. Em relação às infeções, com os mais recentes números o país ultrapassou os 8,8 milhões de diagnósticos positivos (8.816.254) desde o início da pandemia.

No Brasil, país lusófono mais afetado pelo novo coronavírus e um dos mais atingidos do mundo, a taxa de letalidade da doença permanece em 2,5%.

Já a taxa de incidência está fixada em 103 mortes e 4.195 casos por cada 100 mil habitantes.

Geograficamente, o foco da pandemia está em São Paulo, estado mais rico e populoso do país, que sozinho concentra 1.694.355 infetados e 51.423 óbitos.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 2.107.903 mortos resultantes de mais de 98,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

NR/HN/LUSA

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