Reeleito, o professor de Direito e ex-líder do PSD conseguiu no domingo mais votos do que em 2016 (ao contrário do que aconteceu com os seus antecessores Cavaco Silva ou Jorge Sampaio), com cerca de 60%, e uma vitória nos 308 concelhos, o que acontece pela primeira em Portugal.
Após uma campanha em tempos de crise pandémica, em estado de emergência e confinamento, em que andou sozinho, foi também sozinho que se apresentou para o discurso de vitória na Reitoria da Faculdade de Direito de Lisboa para recusa a ideia de que a vitória é um “cheque em branco”.
Marcelo disse ter a noção de que “os portugueses, ao reforçarem o seu voto, querem mais e melhor”, seja “em proximidade, em convergência, em estabilidade, em construção de pontes, em exigência, em justiça social e de modo mais urgente, em gestão da pandemia”.
“Entendi esse sinal e dele retirarei as devidas ilações”, sublinhou, afirmando ter “a exata consciência que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco” e prometeu “solidariedade institucional” ao parlamento e ao Governo.
E ainda nem tinha feito o discurso de vitória já o primeiro-ministro, António Costa, estava a felicitar “calorosamente” Marcelo Rebelo de Sousa pela sua reeleição, com votos de continuidade do seu mandato presidencial “em profícua cooperação institucional”, na sua conta no Twitter.
Mas a noite eleitoral foi longa, com uma certeza desde o início, quem era o vencedor, e várias dúvidas que se prolongaram durante horas: quem fica em segundo lugar? Se as projeções colocavam Ana Gomes em segundo, o intervalo das sondagens permitia admitir que André Ventura, em terceiro, ainda podia guindar ao 2.º posto da ex-eurodeputada.
E foi preciso esperar quase pelo final do apuramento, pelos resultados dos grandes centros urbanos, em Lisboa, Porto e Setúbal, para desfazer as dúvidas, já passava das 22:30. Foi Ana Gomes quem ficou em segundo por escasso um ponto percentual.
Aos apoiantes, a socialista que concorreu com o apoio do PAN e Livre e alguns dirigentes do PS assumiu ter falhado a segunda volta nestas presidenciais, mas que cumpriu o “objetivo patriótico” de impedir que a ultradireita assumisse uma posição de “possível alternativa”.
Não disse o nome, mas era André Ventura a quem Ana Gomes se referia e que, minutos depois, reclamou a “reconfiguração” da direita portuguesa, ao ter conseguido 496 mil votos e um terceiro lugar.
Ao mesmo tempo, o presidente do Chega deixou um aviso ao PSD e a Rui Rio. “Hoje ficou claro em Portugal e para a Europa e para o Mundo que não haverá Governo em Portugal sem que o Chega seja parte fundamental. Não há volta a dar. PSD, ouve bem, não haverá governo em Portugal sem o Chega”, gritou.
À esquerda, Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, e João Ferreira, apoiado pelo PCP e Verdes, tiveram uma queda, em especial a candidata bloquista, que há quatro anos teve 10%.
A eurodeputada do BE, com 3,95%, admitiu também ter ficado aquém dos resultados que queria e responsabilizou o PS, dizendo que é aos socialistas que se deve perguntar porque “é que a esquerda não somou mais nesta eleição” presidencial.
E o resultado é também “um aviso à esquerda”, disse, antes de alertar para a “reconfiguração da direita em Portugal”, com a subida do candidato do Chega.
Ainda à esquerda, o comunista João Ferreira, com 4,32% – ligeiramente acima dos 3,9% de Edgar Silva em 2016 – contornou a questão de números, repetindo que não era “candidato a percentagens”. Assumindo que gostava que a “visão” que apresentou aos eleitores tivesse tido “o acolhimento mais amplo possível” nestas eleições.
À direita, a Iniciativa Liberal estreou-se no apoio a um candidato, Tiago Mayan Gonçalves, que considerou uma “janela de esperança” para todos portugueses os três por cento alcançados nas eleições, sinalizou o “crescimento da onda liberal”, e que mostra um caminho diferente às opções dos últimos 40 anos.
No fim da lista ficou Vitorino Silva, o calceteiro mais conhecido por Tino de Rans, obteve 2,94%, 122 mil votos, menos 30 mil dos que há cinco anos.
Nos comentários partidários, os dois partidos que apoiaram Marcelo, PSD e CDS, usaram tons diferentes.
O presidente do PSD, Rui Rio, felicitou Marcelo Rebelo de Sousa pela reeleição e pediu-lhe que, neste segundo mandato, seja “mais exigente com o Governo” do PS, de António Costa.
Já Francisco Rodrigues dos Santos, o líder centrista, reclamou vitória do CDS nas eleições de domingo, argumentando que todos os objetivos do partido “foram conseguidos”.
O PS, que não apoiou nenhum dos candidatos, mas vários dirigentes dividiram-se entre Ana Gomes e Marcelo, defendeu que “graças aos eleitores socialistas, a democracia venceu na primeira volta” e “o extremismo de direita foi derrotado” no país, destacando o papel da ex-diplomata.
LUSA/HN
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