A “seva”, ou serviço comunitário, é parte central da filosofia Sikh e outras originárias da Índia, e na forma mais comum traduz-se numa refeição caseira vegetariana oferecida pelo templo a qualquer um que necessitar, tradição que no caso do Dubai normalmente congrega centenas de imigrantes de países do sudeste asiático ou África.
Mas a dificuldade destes emigrantes em aceder a vacinas levou o templo do Dubai a encontrar uma nova forma de ajuda: administrar 5.000 doses da vacina chinesa contra a Covid-19, para Sikhs ou simples trabalhadores do estado do Médio Oriente, entre os quais a incidência de Covid-19 é maior e continua a crescer.
Em tempos de pandemia, “esta é a única maneira que temos para servir a comunidade”, disse o líder do templo Sikh do Dubai, Surender Singh Kandhari, citado pela AP.
Para chegar àqueles que teriam maiores dificuldades em conseguir uma vacina – motoristas, empregados de comércio ou até pessoal médico – a influente comunidade Sikh fez um acordo com a empresa de saúde Tamouh para administrar a vacina chinesa, tendo iniciado o processo no passado fim-de-semana.
Na fila para receber a vacina, na garagem do templo, estavam até trabalhadores hospitalares de primeira linha, mais expostos ao vírus, que não conseguiram ser vacinados devido a restrições etárias ou falta de doses de vacinas.
“Encontramos muitas pessoas que queriam tomar a vacina e estavam a ter dificuldades”, adiantou Kandhari, que em tempos normais “administra” aos carenciados doses de arroz carregadas de especiarias.
Fundado há cerca de 500 anos na região do Punjab, entre a Índia e o Paquistão, o Sikhismo é considerado a 5ª maior religião organizada do mundo, tendo nos Emirados Árabes Unidos cerca de 50 mil fiéis.
Depois de receber a “vacina Sikh”, Suleman Yakoob Gangad, um emigrante de 51 anos, relatou partilhar um pequeno dormitório com quatro pessoas, uma das quais testou positivo para Covid-19 nos últimos dias.
“O melhor para pensar positivo é receber a vacina, seja ela qual for. Temos de pensar assim para nos mantermos seguros a nós próprios e aos outros”, disse o condutor de profissão.
Com uma população de cerca de 3 milhões de pessoas, o Dubai registou perto de 330 mil casos de Covid-19 e 930 mortes, tendo apostado fortemente na vacinação para evitar uma queda da economia.
Depois de um ímpeto inicial que levou a que os Emirados Árabes Unidos registassem a segunda mais alta taxa de vacinação do mundo, atrás apenas de Israel, nos últimos dias começaram a acumular-se problemas logísticos e no domingo o Governo anunciou que temporariamente a vacinação será limitada a residentes e cidadãos com mais de 60 anos, ou pessoas que tenham problemas de saúde crónicos.
Milhares de expatriados que já tinham agendada a sua vacinação viram a mesma ser cancelada.
Lusa/HN
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