OCDE alerta que recuperação mundial será “uma miragem” se não incluir África

22 de Fevereiro 2021

O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) disse esta segunda-feira que o fim da pandemia de Covid-19 a nível mundial será uma "miragem" se África não conseguir erradicar o vírus.

“O fim da pandemia e a recuperação económica mundial podem ser uma miragem se a recuperação não incluir África, é por isso que a cooperação internacional é tão importante agora, mais do que nunca, precisamos de reimaginar a ajuda ao desenvolvimento”, disse Angel Gurría na intervenção inicial do 20º Fórum Económico Internacional de África, que hoje decorre em formato virtual a partir de Paris.

“Os países desenvolvidos gastaram 14 biliões de dólares [11,5 biliões de euros] no combate ao vírus, mas a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento é de apenas 153 mil milhões de dólares [126 mil milhões de euros], estando a Covax subfinanciada, por isso o que pergunto é como é possível a Covax estar subfinanciada quando os países gastaram 100 vezes mais em estímulos que na AOD, já que isto significa que podem multiplicar a ajuda e partilhar as vacinas para combater a pandemia”, defendeu Angel Gurría.

Na abertura do Fórum, organizado pela OCDE e pela União Africana, em conjunto com a Presidência do Senegal, Angel Gurría exemplificou a escala do impacto da Covid-19 com a quebra económica originada pela crise financeira mundial, em 2008, dizendo que “no ano passado 41 economias africanas sofreram um declínio no PIB, o que compara com apenas 11 na crise financeira de 2008”.

Para o secretário-geral da OCDE, a pandemia veio agravar a queda das receitas dos governos face ao número de pessoas, que já tinha caído 18% entre 2010 e 2018, e deverá ter caído mais 10% em 2020 em pelo menos 22 economias africanas, a que se junta a queda de 18% das poupanças, 9% nas remessas e “uns impressionantes” 40% no Investimento Direto Estrangeiro.

“A Ajuda Oficial ao Desenvolvimento não será suficiente para compensar estas contrações, que se juntam às emergências pré-covid, como a crise alimentar e a crise de segurança na África subsaariana, que foram exacerbadas pela pandemia e vão alimentar-se dela”, acrescentou o responsável.

Para garantir a recuperação das economias africanas, Angel Gurría defendeu “uma ação coordenada e ousada”, que passa pela aposta na digitalização, melhoria das receitas internas e aceleração da diversificação em todos os países do continente.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights