“Esta questão das variantes é uma questão extremamente relevante porque pode fazer tábua rasa de todos os conhecimentos que nós temos sobre o vírus”, disse à Lusa o diretor do Serviço de Patologia Clínica do CHMT, Carlos Cortes.
Defendendo também como “absolutamente fundamental” a identificação das variantes para proceder aos corretos cuidados clínicos e epidemiológicos, Carlos Cortes adiantou que o CHMT começou há uma semana a desenvolver um trabalho laboratorial de identificação das novas estirpes, com o objetivo de proporcionar uma melhor abordagem clínica aos doentes Covid-19.
Segundo Carlos Cortes, “não é a mesma coisa um doente ter uma variante do Reino Unido ou ter uma estirpe selvagem do vírus SARS-CoV-2”, já que “são coisas completamente diferentes e que levam a um cuidado epidemiológico diferente e a uma abordagem clínica igualmente diferente”.
O responsável disse ainda que “há milhares de mutações” e que “vão aparecer mais variantes”, considerando que “o grande desafio hoje em termos de diagnóstico em termos nacionais é fazer uma testagem em massa das variantes” e não se limitar ao SARS-CoV-2.
Por isso, defendeu, para que não aconteça “uma nova vaga desencadeada por uma variante que não tenha sido suficientemente acautelada na sua identificação”, deve-se “trabalhar mais na prevenção para depois não se correr atrás do prejuízo”.
“Temos de ter capacidade para fazer essa sequenciação e ter muito bem definido como se faz porque vai permitir descobrir novas mutações e novas variantes do vírus e, sobretudo, tem de se refazer um plano de testagem, que foi atualizado recentemente, mas que tem de ter outra atualização para se incluir a identificação das variantes”, afirmou.
Com uma capacidade laboratorial instalada para processar 3.000 testes diários e analisar as variantes mais significativas do vírus SARS-CoV-2 em mais de 500 amostras, o laboratório de Patologia Clínica do CHMT, que abarca as unidades hospitalares de Abrantes, Tomar e Torres Novas, no distrito de Santarém, consegue identificar três estirpes, nesta primeira fase, as variantes do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, e, a partir de março, também a variante da Califórnia.
Carlos Cortes explicou que este estudo permite identificar a prevalência em termos geográficos das variantes mais conhecidas atualmente, sendo que a variante inglesa representa cerca de 52% dos casos identificados na área geográfica do CHMT.
“O CHMT deu um primeiro passo, um passo ousado, mas é um passo necessário para sabermos exatamente que vírus é, e se pode constituir mais perigo do que aquele que nós conhecíamos”, disse, insistindo que “as variantes podem fazer tábua rasa” de todo o conhecimento sobre o vírus, “porque desenvolvem outras capacidade “como uma maior resistência, maior infecciosidade e maior agressividade para os doentes que são portadores”.
Até à data, o Serviço de Patologia do CHMT realizou 113.848 mil testes ao SARS-Cov-2, dos quais 10.9% positivos, distribuídos por várias áreas geográficas para além da área de influência do CHMT, nomeadamente Setúbal, Almada, Seixal, Cascais, Loures, toda a zona do Oeste, alguma área do Alentejo e todo o distrito de Santarém.
Os testes urgentes têm resposta laboratorial no CHMT em 85 minutos, em média, e os testes normais em cerca de seis horas, sendo a prevalência dos casos positivos de 65% no sexo feminino e de 35% no masculino.
Na faixa etária das pessoas com mais de 80 anos foram detetados 3.534 casos, seguida da faixa etária dos 50 aos 59 anos, com 1.154 casos. Há 27 casos identificados em crianças com menos de um ano.
Lusa/HN
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