André Santos Enfermeiro, Mestre em Gestão e Economia de Serviços de Saúde

Avaliação Económica da PrEP (da infeção por VIH), em HSH, no Norte de Portugal

03/05/2021

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Avaliação Económica da PrEP (da infeção por VIH), em HSH, no Norte de Portugal

05/03/2021 | Em destaque, Opinião

Introdução: No âmbito do mestrado em Gestão e Economia de Serviços de Saúde, efetuado na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, elaborei uma dissertação de Mestrado onde o objetivo do trabalho era a realização de uma avaliação económica na área da Profilaxia Pré Exposição (PrEP) do VIH na região Norte do País. Pretendia-se contribuir para uma resposta à questão: será a despesa em antirretrovirais de forma profilática uma opção custo efetiva do ponto de vista de aplicação dos recursos em saúde? A pertinência do tema prende-se também com o pouco conhecimento dos profissionais sobre esta profilaxia, com alguma resistência dos profissionais à sua utilização e com a inexistência de estudos neste âmbito no que se refere ao nosso País (tanto quanto seja do nosso conhecimento).

Metodologia: Foi usada e comparada informação relativa a dois grupos de homens que têm sexo com homens (HSH) tão semelhantes entre si, quanto possível, no que que se refere a um conjunto de características identificadas na revisão da literatura. Um constituído por indivíduos acompanhados em consulta de PrEP quer no Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), quer no Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ). Outro constituído por HSH que não realizam PrEP e são acompanhados pelo Centro Comunitário da Abraço (CCA), entre maio de 2018 até ao final do ano de 2019. 

A avaliação económica realizada teve como base pressupostos baseados quer na compilação de dados retirados da revisão de literatura, quer da amostra que realiza PrEP nos dois centros hospitalares.

Avaliação Económica: Sem considerar as infeções secundárias, o projeto não foi considerado como custo efetivo e apenas permitia evitar sensivelmente 9,51 infeções. Porém, admitindo que cada infeção evitada com este tratamento PrEP impede pelo menos uma outra infeção adicional num efeito de bola de neve, determina-se que o número de infeções evitadas seria sensivelmente 1773,49, passando o valor atual líquido (VAL) da intervenção a assumir o valor de 140 120 104,55 € e a poupança por cada infeção VIH evitada a assumir o valor de aproximadamente 86 319,16 €.

Conclusões, limitações e perspetivas futuras: Assim sendo, com este estudo projetado para o Norte do Portugal, conclui-se que o programa PrEP reduz o número de infeções de VIH entre HSH na região norte e é um programa custo-efetivo quando o risco de adquirir VIH é elevado e se tivermos em consideração o número de infeções secundárias. Quanto maior a incidência de VIH, maior o número de infeções evitadas e mais custo-efetivo é o programa PrEP. Poderá obter-se uma poupança de cerca 86 319,16 € por cada infeção de VIH evitada, um pouco a baixo dos 205 000 € descritos na norma da DGS (2017). Assim, o investimento resultará em poupanças de custo substanciais a longo prazo.

De salientar ainda que atualmente, a maior quota de custo diz respeito não aos custos com a medicação, mas sim aos custos com o acompanhamento desta população.

Hoje sabemos também que o futuro da PrEP como a conhecemos para grupos de elevado risco poderá brevemente vir a ser substituída por um medicamento injetável de administração de 2 em 2 meses e com possível aprovação pela FDA já em 2021, potencialmente menos suscetível a abandonos ou esquecimentos.

O estudo realizado apresenta algumas limitações, uma vez que não foi possível contabilizar todos os custos e todos os benefícios associados a esta profilaxia e acompanhamento PrEP. No que se refere aos benefícios não contabilizados, com efeito, sabemos que o acompanhamento de uma população que adota comportamos de elevado risco permite detetar muitas IST de forma precoce, o que se traduz numa menor propagação dessas doenças e, consequentemente, numa poupança de custos futuros, que não está aqui espelhada e demonstrada. Outra das limitações do estudo foi a de não ter sido possível considerar os comportamentos de compensação de risco dos utentes que efetuam PrEP. Na amostra do nosso estudo, foram apenas detetadas infeções bacterianas e não se verificou a incidência de nenhum caso de hepatite C. Por outro lado, sabemos que, hoje em dia, as infeções bacterianas podem representar graves problemas de saúde pública devido à resistência aos antibióticos e que o uso do preservativo deve ser incentivado. Outra das limitações deste estudo foi não ter sido possível avaliar o impacto deste programa na qualidade de vida dos indivíduos que realizam PrEP.

 

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