Dos espargos para a medula espinal, a experiência relatada numa conferência que arranca hoje

18 de Março 2021

Dos espargos Andrew Pelling fez um implante natural da medula espinal que conseguiu restaurar movimentos num ratinho paralisado: a experiência é relatada pelo investigador canadiano num vídeo que será exibido numa conferência que começa esta quinta-feira em formato digital.

A conferência “AIMS Meeting” é uma iniciativa da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa que decorre até domingo e inclui palestras, debates e ‘workshops’.

Pela primeira vez, e por causa da pandemia da Covid-19, a conferência decorre em formato digital. Entre os oradores está, além de Andrew Pelling, o biólogo francês Jules Hoffmann, um dos laureados em 2011 com o Prémio Nobel da Medicina, pelas descobertas sobre a ativação da imunidade inata, e que “inaugura” hoje o ciclo de palestras.

Este ano, as temáticas do “AIMS Meeting” versam sobre as ameaças globais à saúde (alterações climáticas, doenças infecciosas, falta de acesso a cuidados de saúde), neurociências (processamento da memória, emoções, comportamento) e os avanços na ciência, de acordo com a organização.

A lista de oradores integra também o diretor do Instituto Global de Saúde, Jonathan Patz, que colaborou durante 14 anos com o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU, o médico e cientista brasileiro Miguel Nicolelis, pioneiro nas neuropróteses, o diretor-geral do Instituto Internacional de Vacinas, Jerome Kim, a pediatra síria Amani Ballour, vencedora do prémio Raoul Wallenberg de 2020, instituído pelo Conselho da Europa, e o diretor do Instituto para a Investigação do Envelhecimento dos Estados Unidos, Nir Barzilai.

Andrew Pelling é cofundador e diretor científico da Spiderwort, uma empresa de biotecnologia que se propõe criar biomateriais à base de celulose para tratamento de lesões na medula espinal e regeneração de tecidos moles.

Um dos seus “produtos”, o CellBridge, um biomaterial que promove a regeneração da medula espinal, foi reconhecido em finais de 2020 pelo regulador do medicamento norte-americano como um “dispositivo médico inovador”, depois dos resultados promissores revelados em ensaios pré-clínicos. A empresa prepara-se para avançar com ensaios clínicos.

Em laboratório, Andrew Pelling e a sua equipa conseguiram, a partir de um implante na medula espinal feito à base de talos de espargos, que um ratinho paralisado voltasse a mover as patas traseiras e começasse a levantar-se sozinho.

A estrutura dos talos dos espargos (esvaziados de células) é constituída por microcanais que, segundo Andrew Pelling, professor na universidade canadiana de Otava, podem “guiar” a formação de novas células nervosas (neurónios) e, deste modo, reparar uma lesão na medula espinal.

Na experiência com ratinhos, a estrutura foi implantada entre as extremidades cortadas da medula espinal para funcionar como uma ponte para o crescimento de células nervosas.

Andrew Pelling ficou conhecido por, numa experiência anterior, ter usado a celulose da maçã, esculpida em forma de orelha, para fazer crescer células humanas. Estavam criadas as “orelhas de maçã”.

LUSA/HN

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