Investigadores do i3S criam biomaterial fetal injetável para tratar dor lombar

Investigadores do i3S criam biomaterial fetal injetável para tratar dor lombar

Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto esclarece hoje que a equipa da ‘startup’ Fetaldisc submeteu um pedido de patente do “primeiro biomaterial fetal injetável para regenerar o disco intervertebral”.

A degeneração do disco intervertebral provoca a dor lombar, a principal causa de incapacidade em Portugal que ocorre com o envelhecimento.

As opções de tratamento passam por fisioterapia, medicamentos ou cirurgias bastante invasivas, mas, em grande parte dos casos, não existem soluções a longo prazo.

Durante a investigação, a equipa utilizou desperdícios da indústria pecuária, que normalmente são incinerados, e identificou a existência de componentes pro-regenerativos nos discos intervertebrais fetais.

“Após processamento em laboratório, estes tecidos têm um maior potencial regenerativo, ou seja, verificamos um reaparecimento das proteínas típicas de um ambiente saudável em células de disco cultivadas nos biomateriais fetais de bovino”, afirma, citada no comunicado, a investigadora e líder da ‘startup’ Fetaldisc.

Segundo Joana Caldeira, o biomaterial desenvolvido tem também “capacidade de inibir a formação de novos vasos sanguíneos”, processo que está relacionado com a intensidade da dor, mobilidade e qualidade de vida dos doentes.

A tecnologia utilizada “tem por base o processamento do tecido fetal de modo a eliminar as células nele existentes, mantendo a maioria dos restantes componentes bioquímicos e estruturais característicos das fases de desenvolvimento embrionário”.

Numa fase posterior, os investigadores procederam à desidratação a baixas temperaturas “para obter um elevado tempo de vida útil do material em questão” e “economizar o processo de armazenamento”, por forma a ser posteriormente injetado “na forma de partículas em suspensão”.

Com um material injetável “elimina-se a necessidade de cirurgias invasivas a pacientes com dor lombar e diminui-se o tempo de intervenção, de recuperação e de hospitalização”.

“Este biomaterial tem também a vantagem de poder ser produzido de uma forma simples, segura, acessível e passível de ser escalonável”, refere a investigadora.

Joana Caldeira salienta ainda que, quanto mais cedo for realizada a intervenção, maior deverá ser o seu potencial, podendo “proporcionar um efeito preventivo”.

“A equipa antevê ainda que este biomaterial possa ter uma aplicação mais abrangente em doenças degenerativas da cartilagem que afetam outras articulações nomeadamente do joelho, anca e ombro”, acrescenta o instituto da Universidade do Porto.

No âmbito do programa ‘Women TechEU’, da Comissão Europeia, a ‘startup’ recebeu um financiamento de 75 mil euros, que vai permitir validar o biomaterial em ensaios pré-clínicos e consolidar o modelo de negócio.

O programa europeu visa promover o empreendedorismo feminino na área da tecnologia. Este ano, a iniciativa financiou 134 empresas de base tecnológica, sete das quais em Portugal.

LUSA/HN

Tetraplégico volta a andar graças a dispositivo que fornece ligação entre cérebro e medula

Tetraplégico volta a andar graças a dispositivo que fornece ligação entre cérebro e medula

Um acidente de bicicleta há 12 anos deixou Gert-Jan Oskam paralisado totalmente das pernas e parcialmente dos braços, depois de a sua medula espinal ter ficado danificada na zona do pescoço.

Agora, Gert-Jan Oskam consegue ficar de pé, andar, subir escadas e, até, atravessar terrenos complexos devido a um dispositivo que cria uma “ponte digital” entre o seu cérebro e os nervos abaixo da lesão, refere a Nature, salientando que o holandês recuperou a capacidade de andar com muletas mesmo quando o dispositivo estava desligado.

O dispositivo, chamado interface cérebro-medula, baseia-se num trabalho anterior do neurocientista francês Grégoire Courtine, que trabalha no Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Lausanne.

Courtine e colegas demonstraram num ensaio em 2018 que, quando combinada com treino intensivo, a tecnologia que estimula a parte inferior da coluna com impulsos elétricos pode ajudar pessoas com lesões na medula espinal a voltarem a andar.

Gert-Jan Oskam participou no ensaio, mas passados três anos as melhorias verificadas estabilizaram.

O novo dispositivo, melhorado pela equipa de Courtine, faz uso do implante na medula que Oskam já tinha e combina-o com dois implantes em forma de disco que foram inseridos no seu crânio para que duas redes de 64 elétrodos fiquem contra a membrana que cobre o cérebro.

Segundo a Nature, quando Oskam pensa em andar, os implantes no crânio detetam atividade elétrica no córtex, a camada externa do cérebro. O sinal é transmitido sem fios e descodificado por um computador que Oskam usa numa mochila e que transmite as informações para o implante que estimula a medula com impulsos elétricos.

Depois de cerca de 40 sessões de reabilitação com o interface cérebro-medula, Gert-Jan Oskam recuperou a capacidade de mexer voluntariamente as pernas e os pés, o que, de acordo com a equipa do neurocientista francês Grégoire Courtine, indicia que houve uma maior recuperação das células nervosas que não ficaram completamente danificadas com a lesão na medula espinal.

“Antes, a estimulação controlava-me. Agora, sou eu que controlo a estimulação com o meu pensamento. Quando decido dar um passo, a estimulação entra em ação assim que penso nisso”, afirmou Oskam, citado pela Nature.

De acordo com o neurocientista Grégoire Courtine, Gert-Jan Oskam “tem o controlo total sobre o parâmetro de estimulação, o que significa que pode parar, andar, subir escadas”.

Um dos dois implantes inseridos no crânio de Oskam teve de ser removido ao fim de cerca de cinco meses por causa de uma infeção.

Contudo, a neurocirurgiã Jocelyne Bloch, que implantou o dispositivo, considera que os riscos são pequenos quando comparados com os benefícios.

“Há sempre um pequeno risco de haver infeções ou hemorragias, mas são tão pequenos que vale a pena o risco”, sustentou, citada pela revista Nature.

A equipa de Grégoire Courtine pretende testar no futuro se um dispositivo semelhante poderá recuperar movimentos de braços e mãos.

LUSA/HN

Investigadores querem tratar doenças neurológicas intervindo diretamente no cérebro

Investigadores querem tratar doenças neurológicas intervindo diretamente no cérebro

O projeto, que integra 20 grupos de investigação canadianos e quatro grupos europeus, visa “desenvolver metodologias para tratar certo tipo de doenças neurológicas associadas à perda de neurónios, intervindo diretamente no cérebro dos doentes, mais especificamente no local onde se verificou a lesão”, adianta hoje, em comunicado, o instituto da Universidade do Porto (i3S).

Apesar de ainda não existir cura para os distúrbios neurológicos associados à perda ou disfunção neuronal, o i3S destaca que a reprogramação neuronal direta [metodologia assente na conversão de outras células em neurónios] é “cada vez mais encarada como uma estratégia promissora para reparar o cérebro em situações patológicas associadas à perda de neurónios”, como no caso das doenças neurodegenerativas ou acidentes vasculares cerebrais.

“Na base desta ideia estão resultados encorajadores de experiências desenvolvidas em células em cultura, e que usam proteínas, chamadas fatores de transcrição, para ligar e desligar genes que dão às células características de neurónios”, assinala.

No decorrer do projeto, que tem a duração de seis anos, os investigadores vão procurar “efetuar a reprogramação neuronal diretamente no cérebro”, mas, para que tal seja possível, é preciso “ultrapassar algumas barreiras”.

Com recurso a modelos animais, os investigadores vão tentar identificar o “conjunto de fatores de transcrição ideal para obter determinados tipos de neurónios, “desenvolver metodologias para colocar os fatores dentro das células cerebrais que tencionam reprogramar e encontrar formas de avaliar o sucesso da reprogramação neuronal”, através de técnicas de imagiologia do funcionamento cerebral.

“O objetivo a longo prazo é conceber aplicações clínicas para reprogramação neuronal diretamente no cérebro dos pacientes, mais especificamente na zona onde houver perda de neurónios, gerando novos neurónios a partir de células residentes do cérebro adulto, nomeadamente os astrócitos”, esclarece, citado no comunicado, o investigador Diogo Castro, coordenador da equipa do i3S que integra o projeto.

Ainda que esse seja o objetivo, é necessário, inicialmente, fazer uma “prova de conceito em modelos pré-clínicos”.

“Os astrócitos, pela sua plasticidade, abundância e localização, são o candidato ideal para este efeito, já que podem ser convertidos em neurónios com relativa facilidade e se encontram disseminados por todo o órgão”, acrescenta Diogo Castro, líder do grupo Stem Cells & Neurogenesis do i3S, que tem vindo a desvendar como funcionam os fatores de transcrição envolvidos na geração dos neurónios durante o desenvolvimento embrionário.

Neste consórcio, os investigadores do i3S vão ajudar no mapeamento dos locais de ligação dos fatores de transcrição ao genoma dos astrócitos durante a reprogramação neuronal.

Coordenado pelo Sunnybrook Research Institute (Canadá), o projeto foi financiado com mais de 16 milhões de euros pelas três agências governamentais canadianas para a investigação: Canadian Institutes of Health Research (CIHR), Natural Sciences and Engineering Research Council (NSERC) and Social Sciences and Humanities Research Council (SSHRC).

A equipa do i3S irá receber cerca de 750 mil euros.

LUSA/HN

Realidade virtual como ajuda ao envelhecimento ativo estende-se a 20 municípios

Realidade virtual como ajuda ao envelhecimento ativo estende-se a 20 municípios

De acordo com dados hoje divulgados em Montemor-o-Velho, distrito de Coimbra, a primeira fase do VirtuALL – Inovação, Envelhecimento, Qualidade de Vida – apresentado, em 2019, como um projeto pioneiro em Portugal e durou cerca de três anos – abrangeu mais de mil pessoas maiores de 65 anos daquele e dos municípios da Figueira da Foz, Cantanhede, Mira, Penacova e Mealhada.

Promovido pela Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego (Ad-elo), estende-se, agora, a outras três associações congéneres, abrangendo mais 14 municípios: Arganil, Oliveira do Hospital, Tábua e Góis (Adiber), Castelo Branco, Penamacor, Vila Velha de Ródão e Idanha-a-Nova (Adraces) e Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, Alenquer, Lourinhã, Cadaval e Torres Vedras (Leader Oeste).

“A ideia é que no final do projeto, em 2024, possam ter participado mais de dois mil seniores”, disse hoje à agência Lusa Mário Fidalgo, secretário executivo da Ad-elo.

“Com a ajuda destas tecnologias, este é um envelhecimento que se quer ativo e saudável” vincou aquele responsável, acrescentando que, nos últimos três anos, uma equipa de três técnicas (especialistas em psicologia, fisioterapia e geografia humana) trabalhou com idosos dos seis municípios originalmente envolvidos, numa fórmula rotativa por autarquia, em sessões de grupo de 10 pessoas, um dia por semana, ao longo de cinco semanas.

Com a constituição da Comunidade VirtuALL, hoje formalizada, e que envolve também a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, serão quatro equipas técnicas, uma por cada associação de desenvolvimento local, a fazer esse trabalho junto dos seniores dos 20 municípios envolvidos, explicou Mário Fidalgo.

“Queremos desenvolver a ideia de que em qualquer idade é possível estar ativo e dar experiências únicas às pessoas”, aduziu Mário Fidalgo, exemplificando com os jogos e exercícios colaborativos possíveis de ser realizados com tecnologia de realidade aumentada e óculos de realidade virtual.

O investimento no projeto, ainda segundo aquele responsável, cifra-se nos cerca de 650 mil euros, desde 2019 até ao final desta segunda fase, em 2024.

Intervindo na sessão, Emílio Torrão, presidente da Câmara de Montemor-o-Velho e também da Ad-elo, frisou que o projeto VirtuALL “era disruptivo à época [em 2019] e hoje quase que o assumimos com naturalidade”.

“Na altura não foi fácil, era algo à frente do seu tempo, o desafio de pôr alguém com mais de 65 anos à frente de uma consola a jogar um jogo. Mas quando experimentam não querem outra coisa”, garantiu o autarca.

Olhando para a assistência no auditório da Biblioteca Municipal de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão vislumbrou alguns participantes da freguesia de Arazede “que já experimentaram e gostaram”, e outros, de Penamacor, um dos novos municípios aderentes “que estão curiosos”, notou.

“Em boa hora conseguimos alargar [o projeto]. Quem vê estes seniores a divertirem-se, a brincar com estas experiências digitais, percebe que ficam todos empolgados (…) Permite quebrar a solidão de alguns [na plateia houve quem acenasse com a cabeça a concordar], permite ganhos na qualidade de vida e fazer os seniores mais felizes”, observou Emílio Torrão.

LUSA/HN

Identificado gene que poderá ser a chave desenvolvimento de contracetivo masculino

Identificado gene que poderá ser a chave desenvolvimento de contracetivo masculino

Numa experiência com ratos, cujos resultados são hoje publicados na revista científica Nature Communications, investigadores da Universidade de Washington conseguiram desativar o gene ‘Arrdc5’ e gerar infertilidade nos machos.

O gene é expresso no tecido testicular de ratos, porcos, bovinos e humanos.

Segundo o autor principal da investigação, Jon Oatley, os roedores machos produziram espermatozoides “que não puderam fertilizar um óvulo” (célula sexual feminina) quando o gene foi desativado.

O estudo concluiu que os ratos que tinham falta do gene produziram menos 28% de espermatozoides, que se moviam 2,8 vezes mais devagar do que os dos ratos normais, e cerca de 98% desses espermatozoides apresentavam cabeças e partes intermédias anormais.

A proteína codificada pelo gene ‘Arrdc5’ é necessária para a produção normal de esperma, pelo que a equipa de cientistas de Washington está a trabalhar num medicamento que iniba a função da proteína, o que favoreceria a contraceção masculina sem interferir nas hormonas, como a testosterona, que, além de produzir esperma e glóbulos vermelhos, contribui para a formação de massa óssea e para a força muscular.

Um fármaco dirigido a esta proteína significaria também que o seu efeito contracetivo seria reversível, isto é, uma vez suspensa a toma do medicamento os espermatozoides voltariam a ser produzidos normalmente.

Jon Oatley e a primeira autora do estudo, Mariana Giassetti, entregaram uma patente provisória para o desenvolvimento de um contracetivo masculino baseado no gene ‘Arrdc5’ e na proteína que codifica, que poderá servir de alternativa à castração nos animais e à vasectomia nos homens.

LUSA/HN