Recentemente foi descrita em pacientes em Angola provenientes da Tanzânia uma nova variante com uma dezena de novas mutações em relação às variantes conhecidas. Estes casos merecem a preocupação de Moçambique, uma vez que a Tanzânia faz fronteira a norte com este país lusófono.
“Vamos montar uma estratégia de vigilância genómica mais intensiva, principalmente para as amostras que vêm de Cabo Delgado ou do norte de Moçambique, que faz fronteira com a Tanzânia”, disse Nália Ismael, em resposta a uma questão colocada no seminário online “Impacto das variantes de SARS-CoV-2 na pandemia da covid-19”.
Segundo a virologista, “a probabilidade de esta variante entrar em Moçambique será a partir do Norte” e “a estratégia de vigilância será mista, e incluirá o escrutínio das amostras de pacientes infetados que vierem a ser recolhidas na província de Cabo Delgado, e das que forem recolhidas em eventuais viajantes provenientes da Tanzânia”.
“Estamos a preparar-nos para sequenciar a maior parte das amostras do norte de Moçambique, para ver se conseguimos relatar o surgimento desta variante” o mais antecipadamente possível, explicou.
Moçambique não possui ainda capacidade de sequenciamento do genoma inteiro das amostras recolhidas em testes no país, que lhe permita detetar as variantes do SARS-CoV-2 em circulação no território.
Mas a instalação dessa capacidade no Instituto Nacional de Saúde, anunciou Nália Ismael, “já foi planificada”. “Em breve vamos poder fazer o sequenciamento do genoma inteiro”, disse.
Até lá – “final do ano”, segundo a estimativa da virologista – o INS continuará a depender da Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban, na África do Sul, para fazer a sequenciação completa dos genomas em amostras de pacientes com Covid-19 que vier a recolher no distrito de Cabo Delgado.
O INS já faz sequenciamento parcial do genoma, que depois envia semanalmente para Durban, que completa a sequenciação. A universidade sul-africana está a fazer este serviço para a “generalidade dos países da África Austral”, pelo que, segundo a viróloga moçambicana, o tempo de resposta é “um pouco elevado”.
Esse tempo de resposta, que chegou a ser de duas semanas, quando Moçambique passou a registar um aumento de casos, em final de novembro, dezembro, é de “3 a 4 semanas”, indicou.
As três principais “variantes de preocupação” do vírus SARS-CoV-2 a circular em todo o mundo são atualmente a britânica, a sul-africana e a brasileira. Recentemente, foi detetada uma variante em França em que, aparentemente, o vírus se “esconde” nos testes PCR, utilizados em estratégias de vigilância mais comuns, e apenas é detetado através de testes serológicos ou invasivos, de recolha de amostras de sangue.
Esta nova variante mereceu a preocupação de alguns participantes no seminário. Nália Ismael começou por explicar que essa nova variante se encontra ainda em estudo, mas reconheceu que “a melhor estratégia” passa pela vigilância.
“A melhor estratégia é sermos vigilantes, especialmente em relação às pessoas hospitalizadas com sintomas graves, cujo resultado do teste PCR é negativo. Nesses casos, em particular, temos de pesquisar com um teste serológico, ou tentar recolher uma amostra invasiva. É necessário que sejamos vigilantes em relação a pessoas com sintomas, mas com testes PCR negativos”, admitiu.
Moçambique contabiliza um total acumulado de 772 óbitos associados à Covid-19 desde o início da pandemia, e 67.466 casos de infeção, sendo que, destes, 82% estão dados como recuperados.
O continente africano regista um total de 112.471 mortes e 4.203.087 casos de infeção, e o total de casos recuperados é de 3.762.968 desde o início da pandemia.
LUSA/HN
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