Em entrevista à Lusa, o principal promotor de um apelo público para que as vacinas sejam consideradas um bem de interesse comum, que inclui dezenas de subscritores de diferentes áreas da sociedade portuguesa, confessou-se “chocado” com o rumo atual do processo de vacinação a nível comunitário.
“A partir da entrada das vacinas no mercado começou a haver um jogo comercial em vez de se tratar como um bem público. Quando há uma guerra, há uma mobilização total. E nesta guerra nós não estamos a utilizar as armas adequadas. Não como um bem público e que é de todos, mas sujeito às regras de lei e procura. Esta é uma situação única no mundo e temos de dar uma resposta adequada”, defendeu o primeiro líder da Autoridade Nacional do Medicamento.
Perante um arranque do processo europeu de vacinação marcado por uma “conjuntura muito positiva de resposta da ciência ao desafio” e pelo investimento de entidades públicas, José Aranda da Silva lamentou que a CE, presidida por Ursula Von der Leyen, não tenha sido firme na imposição de mecanismos de controlo de cumprimento das farmacêuticas.
“Não tivemos poder político. Num primeiro momento, a Europa conseguiu fazer compras suficientes, mas depois deixou as empresas em roda livre”, disse, acrescentando: “A CE pôs-se na mão das farmacêuticas e não exigiu o controlo. Estão em período de catástrofe a deixar funcionar as leis de mercado quando devem ser controladas”.
Por outro lado, rejeitou “uma questão ideológica” subjacente ao apelo público e deixou um alerta para o possível recrudescimento da pandemia na Europa face ao atraso registado no programa de vacinação. “É uma questão pragmática. Se até ao verão não vacinarmos toda a gente, vamos ter uma outra vaga e uma grande crise económica e social”, notou.
Considerando também que o primeiro-ministro, António Costa, “devia ter sido muito mais firme a tratar deste problema”, José Aranda da Silva manifestou a sua esperança numa inversão de rumo “se a CE tomar medidas duras sobre as empresas e criar redes de cooperação” ao nível da produção e da distribuição nos estados-membros.
Apesar de contar apenas com subscritores portugueses, o apelo público vai também ter um caráter internacional, segundo José Aranda da Silva, que garantiu que esta mensagem “vai ser divulgada a nível internacional pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.874.984 mortos no mundo, resultantes de mais de 132,3 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.890 pessoas dos 825.031 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
LUSA/HN
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